Dave Lehanski sabia que tinha um problema. Enquanto vice-presidente responsável pela área de inovação e negócio da NHL (a liga de hóquei no gelo americana) tinha consciência de que os jogos têm demasiada ação. Traduzindo: uma pausa durante um jogo de hóquei no gelo não ultrapassa os 15 segundos. Como termo de comparação, uma transmissão de um jogo de futebol americano pode rondar as 3 horas para um tempo de jogo útil de cerca de 20 minutos. Como é que os responsáveis da NFL (a liga de futebol americano dos EUA) preenchem o tempo? Com repetições e estatísticas. Muitas estatísticas.
A partir de 2015, a NHL iniciou uma parceria com a SAP para aumentar a recolha de dados, uma ideia que inicialmente foi recebida com renitência por parte da maioria dos treinadores da liga que se mostravam céticos com os sensores presentes no disco e nos jogadores. Dave Lehanski, presente no SAP Business Innovation Day, que está a decorrer em São Francisco (e em Las Vegas) e no qual a Exame Informática marca presença, revela que foi só quando os intervenientes começaram a ver os resultados práticos que a mentalidade começou a mudar.
Atualmente, a NHL fornece analítica em tempo real, que é enviada para os bancos das equipas e pode ser consultada por treinadores e jogadores nos iPads que se encontram nessa zona. Dados similares podem ser igualmente consultados pelos fãs no site e na app da NHL. Mas o objetivo para o futuro, revela Dave Lehanski, é conseguir fornecer mais gráficos em tempo real durante a transmissão televisiva para que os próprios jornalistas tenham mais ferramentas para enriquecer o direto e prender a atenção dos telespectadores.
Meter gelo na pegada carbónica
Outro parâmetro em que a NHL está a trabalhar com a SAP prende-se com a sustentabilidade. As duas organizaões pretendem reduzir a pegada de carbono e, para tal, desenvolveram a Venue Metrics. Na prática, esta plataforma cloud ponta-a-ponta criada pela SAP permite à NHL medir e analisar a pegada de carbono gerada pelos clubes e respetivos recintos desportivos em áreas como energia, água, desperdício e reciclagem.
De acordo com as estimativas da NHL, as operações relacionadas com os recintos desportivos são responsáveis por aproximadamente 70% da pegada de carbono global da liga. Assim, a Venue Metrics assenta em três componentes principais: recolha de dados, com uma interface a permitir a partilha do consumo de recursos que seja relevante; cálculo e validação de dados, com um motor de processamento e verificação que permite à NHL aferir a consistência dos dados e identificar erros de comunicação, e calcular fórmulas que criem um inventário de carbono; comunicação de dados e ‘insights’, com um painel que permite a visualização de casos com relevância ambiental e financeira de métricas que impactam a liga.
Da pista de gelo para os campos da bola oval
A aposta da SAP na analítica relacionada com o desporto faz igualmente paragem no futebol americano. Em 2018, a empresa alemã desenvolveu o Executive Huddle para a equipa San Francisco 49ers, uma solução de gestão capaz de monitorizar diferentes fontes de dados – como, por exemplo, 200 terminais de POS (pontos de venda) de concessionários, 250 leitores de bilhetes de parqueamento ou 100 terminais de satisfação de fãs. Graças à visualização dos dados em tempo real, é possível detetar falhas e resolvê-las num prazo de 10 minutos, o que contrasta com o método anterior de feedback que se restringia aos questionários pós-jogo e que levavam dias para produzir dados.
Para melhorar a componente de sustentabilidade, a SAP vai instalar agora no recinto desportivo dos 49ers seis leitores de água e gás impressos em 3D para recolher dados diretamente para o Executive Huddle. A expectativa é que o acesso a uma monitorização automatizada do consumo de água e energia no recinto conduza a decisões fundamentadas que permitam poupar recursos.