Houve um momento durante o doutoramento em que David Giltner parou, olhou para o lado e chegou à conclusão de que não queria fazer daquilo vida. Estávamos em 1995 e o americano cumpria o percurso tradicional. “Estudei Física e pensava que deveria ser cientista e fazer um doutoramento. Só que eu não queria o trabalho dos meus colegas e supervisores, queria mais variedade”, recorda, sentado no auditório da biblioteca do campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Depois desta breve passagem pela academia, o físico mudou-se para o setor empresarial, onde trabalhou na da área da ótica, até se ter apercebido de que poderia ajudar jovens estudantes, das áreas científicas, a reorientarem as carreiras. “Percebi que havia grande necessidade nesta área porque os cientistas têm as competências, mas não sabem como utilizá-las.”

Criou o site Turning Science, publicou livros sobre os melhores hábitos laborais e desde 2017 que se dedica em exclusivo a ajudar cientistas de todo o mundo a singrarem no mundo dos negócios. A Portugal chegou pela primeira vez com o apoio do programa American Corner, promovido pela Embaixada dos EUA, e a convite da Universidade Nova de Lisboa, que este ano comemora duas datas redondas a merecer celebração – os 50 anos da Nova e os dez da Nova Escola Doutoral.
Networking para quem odeia networking
“Os cientistas tendem a ser introvertidos”, nota. É por isso que um dos workshops tem o nome Networking quando se odeia fazer networking, nos quais David ensina, por exemplo, a entrar no mercado de trabalho. “É muito comum pensar-se em encontrar emprego online. Penso que esta não será a melhor forma de o conseguir, pode até ser uma perda de tempo. A melhor maneira é identificar a área em que queremos trabalhar, selecionar uma equipa de referência na área e ir falar com as pessoas diretamente”, concretiza. “Devemos procurar oportunidades de contacto, como conferências ou até mesmo online, mas selecionando tópicos específicos no linkedin e estabelecendo uma ligação direta.” A abordagem não será “quero trabalhar para si, tem trabalho para mim.” Mas antes mostrar interesse no que a pessoa faz, no caminho que percorreu. E depois “propor uma conversa de zoom ou um café.” E esta estratégia é válida em qualquer parte do mundo, garante.
Durante as conferências, David mostra as diversas saídas profissionais nas áreas científicas, das mais óbvias, como responsável de produção, às menos evidentes, como avaliador de patentes ou autor em publicações técnicas.
Atualmente tudo é mais fácil e as empresas já não olham com tanta estranheza para alguém que apresenta um percurso científico. “Hoje as empresas reconhecem que os cientistas têm competências de que necessitam. Mas ainda há muito trabalho a fazer, os alunos que pretendem fazer a mudança de carreira, da academia para o meio empresarial, sentem-se algo perdidos porque, sublinha, os professores universitários não têm experiência no setor privado. Aliás, o que mais ouve durante as formações é “nunca ninguém nos tinha dito isto”.