Um conjunto de grupos de defesa do ambiente encabeçado pela Greepeace associou-se a uma empresa privada de criptomoedas para apelar à comunidade de Bitcoin para baixar o nível de emissões poluentes, sugerindo uma grande alteração à forma de funcionamento atual. A campanha ‘Change the Code, Not the Climate’ propõe fazer lóbi junto da comunidade para adoção de mudanças no modelo de segurança e no ecossistema global da Bitcoin. O fundador da Ripple Labs Inc, uma empresa de criptomoeda envolvida em polémica com as autoridades financeiras dos EUA, avançou com cinco milhões de dólares para apoio deste projeto.
Os responsáveis pelo movimento sugerem a alteração do modelo atual de segurança, o Proof-of-Work, pelo modelo Proof-of-Stake. A forma atual implica que empresas e organizações encham centros de dados com computadores especializados e a consumir bastante energia para conseguirem resolver problemas matemáticos para ter o direito de adicionar um bloco de transação de dados para a blockchain e receber novas bitcoin como recompensa. Como se trata de uma competição, e para aumentar as probabilidades de sucesso, os intervenientes começam a adicionar mais máquinas, elevando assim o consumo e aumentando também o nível de emissões poluentes. O significativo consumo energético necessário para alterar o registo de transações afasta também potenciais atacantes. O modelo proposto, Proof-of-Stake, valida um novo bloco de dados com base no volume de tokens já detidos pelo utilizador e elimina a necessidade de haver ‘jogos’ de adivinhação dos números. A Ethereum já anunciou estar a planear a transição para um modelo destes. As estimativas, aponta o Motherboard, indicam que o consumo de eletricidade cairia 99% com esta proposta.
Como o consumo energético necessário é elevado, muitos críticos tendem a indicar que este acaba por ser um balão de oxigénio para a utilização de energias fósseis e surgem parcerias com empresas de gás, como a Exxon, plataformas de perfuração do solo e até mesmo fábricas já extintas de carvão, acabando por usar-se o gás que seria de outra forma desperdiçado para o ambiente.
O diretor de projetos especiais da Greenpeace USA, Rolf Skar, conta que a campanha Change the Code é a continuação de esforços para reduzir a pegada ecológica no setor tecnológico. “A Bitcoin, durante algum tempo, não estava a usar tanta energia. Agora, isso mudou nos últimos anos”.
Os defensores do modelo atual da Bitcoin, como Ted Cruz, argumentam que a mineração de Bitcoin pode facilitar a transição para energias renováveis, mas os ambientalistas defendem que este tipo de energias devia ser alvo de maiores investimentos para outros setores essenciais, como o consumo doméstico ou em hospitais.
Os planos dos mentores da campanha passam por conseguir o apoio de figuras de renome, como Elon Musk ou Jack Dorsey, alegando que “se apenas 30 pessoas – os mineradores mais proeminentes, os mercados e os programadores fundamentais que constroem e contribuem para o código da Bitcoin – aceitarem reinventar a mineração proof-of-work ou mudar para um protocolo de baixo consumo, a Bitcoin deixaria de poluir o planeta”.
Já do lado da comunidade, a característica descentralização do modelo faz com que vejam com ceticismo esta abordagem. “Há muitos pormenores técnicos para ultimar e sim, vão existir pessoas com opiniões fortes. Mas isso é mesmo assim em quase tudo o que precisamos de fazer para endereçar as alterações climáticas. Assim, sejam bem-vindos ao clube, comunidade Bitcoin. Todos temos um papel a desempenhar”, diz Skar.