Simão Cruz, David Nogueira e Roberto Machado são os homens ao leme do Lightshift Capital, um novo fundo de investimento totalmente focado na tecnologia blockchain – uma rede distribuída de registos imutáveis – e em criptomoedas. O objetivo do fundo é encontrar o próximo grande projeto de blockchain que possa ter impacto no mundo das finanças descentralizadas.
E para isso conta com 30 milhões de dólares, cerca de 26 milhões de euros ao câmbio atual. “Investimos em fase inicial, em empresas descentralizadas e através dos seus tokens”, explica Simão Cruz, diretor executivo (CEO) do fundo, em entrevista à Exame Informática. “Temos que investir em fases iniciais para ter impacto. Temos de estar naquelas fases em que faz mais sentido”.
Token, ou ativo digital, é a ‘moeda’ que está associada a cada projeto de blockchain. Ou seja, o Lightshift Capital não vai ficar com uma parte da empresa (equity) como é prática na maioria dos fundos de investimento, vai antes assegurar, logo à partida, uma parte dos tokens que vão ser emitidos pelos projetos que apoiarem.
“Começamos a ver que havia uma grande mudança a nível tecnológico, em que as empresas que estão a crescer mais depressa são empresas descentralizadas”, sublinha sobre a aposta na área específica da blockchain e dos ativos digitais.
A gestão do fundo vai ficar a cargo de Simão Cruz e David Nogueira, mas os portugueses não se vão limitar a passar cheques. O Lightship também tem uma componente de engenharia, porque no ainda mundo novo da blockchain, quase tão importante como o capital, é construir a tecnologia.
“No Lightshift, essa vem como uma grande diferença, temos engenheiros que trabalham diretamente para o fundo, ajudam as nossas empresas em portfólio”, sublinha o CEO. “Entramos como investidores, e em vez de passarmos apenas um cheque, trazemos todo o apoio do lado de engenharia”, acrescenta. Nesta fase inicial, o próprio Lightshift terá quatro programadores para apoiar as startups nas quais vai investir.
O fundo arranca já com dois investimentos – na Dexilon, uma empresa descentralizada de derivativos, e na Ichi, uma plataforma de criação de criptomoedas estáveis (stablecoins) – e tem como objetivo, para o primeiro ano de atividade, investir em dez projetos de blockchain. E como existe uma componente de apoio de engenharia associada, Simão Cruz salienta que o Lightshift Capital não pretende ter mais de 30 startups, de cada vez, no seu portfólio de investimento. “Nós acreditamos que acima de tudo a indústria está a crescer bastante e basta olhar para os retornos dos anos anteriores e tem sido algo muito atrativo para os investidores”.
Apoios de peso
Os três portugueses trazem, cada um à sua maneira, experiência em investimento, tecnologia e criptomoedas. Simão Cruz, que também é um dos cofundadores da Portugal Fintech, já passou pelo Banco de Investimento Global (BIG). David Nogueira, o diretor de tecnologia do Lightshift (CTO), conta com passagens pela Skyhour (EUA), SourceCod (Reino Unido) e EmergeIT (Portugal). E Roberto Machado foi cofundador da Utrust, empresa de pagamentos em criptomoedas que recentemente foi vendida à romena Elrond Network.
O trio tem uma quota no Lightshift Capital – quanto, ao certo, Simão Cruz não revelou, dizendo apenas que “todos os sócios fundadores investiram bastante e têm uma grande quantidade no fundo” – e são apoiados por nomes de peso. Gavin Wood, da Polkadot, uma das maiores plataforma de ligação entre blockchains, e Diogo Mónica, o português que lidera o ‘unicórnio’ das criptomoedas Anchorage, fazem parte do leque de pessoas que investiram no fundo.
Mas o ‘cabeça de cartaz’ é Marc Andreessen. Com uma fortuna pessoal avaliada em 1,2 mil milhões de euros, o investidor americano é cofundador da Andreessen Horowitz (a16z), uma das maiores empresas de capital de risco do mundo e que é conhecida por ter investido, em fase inicial, em empresas que tornaram-se em algumas das maiores tecnológicas à escala global – casos do Facebook, Instagram, Airbnb, Coinbase, Slack, Roblox, Box, Asana, Lyft, Pinterest, Zynga, Transfer Wise, GitHub, Oculus VR e Skype, entre muitos, muitos outros.
Os primeiros contactos com aquele que é um dos nomes mais proeminentes do mundo do capital de risco foi feito por pessoas que o trio de portugueses conhecia e tinham contacto com Marc Andreessen, conversas que depois evoluíram para reuniões online. “Tivemos introduções diretas que fizeram com que falássemos com mais calma e felizmente [o Marc] também teve esse interesse”.
Apesar de ter três portugueses como cara do projeto, o fundo não está sediado em Portugal e é Simão Cruz quem também faz questão de sublinhar que não é um fundo português, “é um fundo global”. As Ilhas Caimão, um território britânico ultramarino localizado no continente americano, foi o local escolhido. “Neste momento há uma grande incerteza a nível internacional sobre como os reguladores das diferentes jurisdições vão considerar estes ativos”, justifica o CEO do Lighstsail sobre a escolha, adiantando que é naquele território que estão sediados muitos outros fundos de investimento em criptomoedas.