Dos 263 milhões de conversas, que decorreram entre 2019 e meados de 2021, analisadas no estudo encomendado pela organização não governamental Ditch the Label, 50,1 milhões continham expressões de ódio, como por exemplo, racial. Segundo os investigadores, registou-se um pico destas discussões na altura em que ocorreram grandes eventos com repercussão mundial, como a declaração do estado de pandemia pela Organização Mundial de Saúde, os protestos Black Lives Matter em 2020 e o homicídio de Sarah Everard em março de 2021.
Os peritos da Brandwatch, a quem o estudo foi encomendado, focaram-se apenas em discussões dos utilizadores dos EUA e do Reino Unido. A Ditch the Label, organização que se dedica a combater o bullying, revela que foi “inundada” por um aumento de incidentes “cada vez mais extremados” de manifestações de ódio online durante a pandemia, motivo pelo qual decidiu pedir este estudo. Os casos mais graves incluem ameaças de morte e uma mulher que denunciou ter visto estranhos à porta da sua casa e a tirar fotografias às suas crianças.
Liam Hackett, o CEO da Ditch the Label, explica que a pandemia criou a tempestade perfeita para aparecerem trolls online, com o confinamento e as pessoas a passarem cada vez mais tempo em casa e atrás dos ecrãs. “Sabíamos já de investigações anteriores que os bullies e trolls podem ter uma saúde mental mais débil, podem ter traumas, podem estar em lares abusivos e podem, eles próprios, estarem a ser alvos de bullying também (…) Sentem que não têm controlo sobre as suas vidas e torna-se [com os confinamentos] a tempestade perfeita”, cita a BBC.
O executivo considera ainda que “porque o normalizamos [o discurso de ódio], isso é parte do problema – isto não devia ser considerado como um ato normal”. A organização pretende colaborar com o governo britânico para uma proposta de lei de segurança online, obrigar as redes sociais a terem o dever de assegurar a proteção dos utilizadores e garantir uma melhor educação para os jovens, para começar a atacar o problema logo na raiz. “Há um papel massivo da educação, mas também tem de haver um esforço da sociedade para melhores campanhas para a mudança e manifestações contra a normalização porque isso não está certo”, afirma Hackett, “e tem consequências devastadoras nas pessoas”.