A organização da campanha presidencial de Donald Trump e a empresa que processa as doações online WinRed terão usado várias táticas ilícitas para ludibriar os apoiantes e levá-los a doar mais dinheiro do que pretendiam. Uma das fórmulas utilizadas passa por uma caixa de seleção com um visto já colocado onde o apoiante declarava que queria tornar aquele donativo recorrente. Outra caixa, apelidada internamente de “bomba de dinheiro”, fazia com que o utilizador na verdade duplicasse o seu apoio financeiro. Uma investigação do New York Times detalha que, desde setembro, a organização recorreu a técnicas cada vez mais duvidosas para enganar os apoiantes.
Nos últimos dois meses e meio de campanha presidencial, a equipa de Trump, do Partido Republicano e da WinRed tiveram de fazer 530 mil devoluções, com o montante a ascender aos 64,3 milhões de dólares. Em comparação, a comitiva de Biden fez 37 mil reembolsos, de 5,6 milhões de dólares. Geralmente, as devoluções são feitas porque as pessoas acabam por doar mais do que o legalmente permitido, entre outras razões legítimas.
Ira Rheingold, da Associação Nacional de Defesa dos Direitos dos Consumidores dos EUA, explica que o uso destas táticas “não é justo, não é ético e é inapropriado”. O responsável explica que estas manobras são identificadas no segmento do consumo doméstico e alerta que a utilização em contexto de uma campanha presidencial, com volumes tão elevados, tem ramificações muito mais sérias.
Estrategas políticos, executivos digitais e especialistas em finanças de campanhas ouvidos pelo jornal americano são unânimes em admitir que não há precedente de uma campanha ter devolvido tanto dinheiro aos apoiantes. Um estudo mostra que a campanha de Trump devolveu mais de 10% de todo o dinheiro que angariou através da WinRed em 2020. Em comparação, a equipa Biden devolveu 2,2% dos montantes recebidos.
Na indústria financeira, através de bancos e empresas de cartões de crédito, também é percetível esta manobra. Vários representantes de bancos admitem que a devolução de montantes chegou a representar 1 a 3% da sua carga de trabalho. Numa primeira análise, a percentagem pode parecer irrisória, mas é bastante grande se se considerar que as doações políticas são uma ínfima parte da economia dos EUA.