Um documento que circulou de forma interna na Google revela que dezenas de funcionários perderam promoções ou foram transferidos para novos projetos, após terem feito denúncias de assédio no local de trabalho. E segundo a publicação Recode, doze antigos e atuais empregados da tecnológica confirmam que há um clima de medo na hora de avançar com uma denúncia.
A revelação acontece cerca de um ano depois de a Google ter sofrido um dos maiores protestos de sempre e que reuniu 20 mil funcionários da empresa – manifestavam-se contra a “cobertura” e indemnizações chorudas que a tecnológica deu a executivos que foram afastados após acusações de assédio sexual.
Em resposta, a Google reconhece a autenticidade do documento que circulou internamente, mas recusou comentar casos específicos de retaliação contra os funcionários. «Reportar maus comportamentos exige coragem e queremos providenciar apoio às pessoas que mostram preocupações», disse Eileen Naughton, vice-presidente de operações de recursos humanos, em resposta.
«Todos os casos de conduta imprópria reportados são investigados rigorosamente e ao longo do último ano simplificamos o processo de como os funcionários podem mostrar preocupação», acrescentou a mesma executiva.
Mas os casos denunciados pela publicação americana parecem mostrar uma imagem diferente. «No geral, existe uma cultura na Google em que as pessoas têm medo de falar com os recursos humanos – e em muitos casos por uma boa razão», defendeu Liz Fong-Jones, uma antiga funcionária da empresa.
Já no que ao documento revelado diz respeito, num dos casos, uma funcionária queixou-se de assédio sexual por parte de um colega e o gestor responsável pela equipa terá dito que a queixa era «exagerada». Como consequência por ter falado, o gestor terá negado uma promoção à funcionária. Uma outra trabalhadora queixa-se de ter perdido acesso a uma promoção por discriminação de género.
«Os meus colegas estão sempre a dizer-me “mantém-te calada e faz o teu trabalho”», escreveu esta empregada, para depois acrescentar: «como é que isto está a acontecer na Google?».
O documento, que servia como uma forma não oficial de os funcionários partilharem entre si histórias de discriminação em ambiente de trabalho, conta com um total de 45 histórias: 28 são casos de discriminação, sete são casos de assédio sexual e as restantes estão relacionadas com problemas de cultura e ética em ambiente de trabalho.