O Governo deu indicação para que os profissionais da Administração Pública evitem de usar telemóveis ou computadores que tenham sido oferecidos a título de cortesia. O Público revela esta quinta-feira, com base em fontes anónimas, que o Governo terá feito circular uma orientação com vista a alertar para os riscos de espionagem que poderão decorrer do uso de computadores e telemóveis oferecidos pelas várias marcas – entre elas as marcas chinesas, incluindo a Huawei, que tem estado no centro da polémica, depois de ter sido alvo de interdição nos serviços estatais e redes de telemóveis dos EUA, Nova Zelândia, Austrália, entre outros países.
O Governo terá feito circular o alerta ainda antes da visita de Ajit Pai, líder da Comissão Federal das Comunicações dos EUA. O homem forte das telecomunicações americanas aproveitou a passagem por Lisboa para alertar para os riscos do uso de tecnologias e equipamentos chineses nas redes de telecomunicações – em especial na quinta geração de telemóveis (5G) que também vai a ser instalada em Portugal.
A tomada de posição do governo português terá sido assumida depois de contactos com diferentes governos europeus. E já tinha precedentes em São Bento: em 2016, o primeiro-ministro António Costa recebeu um telemóvel da Huawei – e não o terá usado devido às suspeitas de que possa estar armadilhado com propósitos de espionagem.
Os alertas de Ajit Pay acabam por contrastar com os investimentos que os operadores portugueses têm vindo a realizar em tecnologias da Huawei e de outras marcas chinesas. A parceria estratégica assinada pela Altice e pela Huawei será, possivelmente, o caso mais paradigmático do ascendente que a marca chinesa tem vindo a assumir em Portugal tendo a 5G por pano de fundo.
Questionado pela Exame Informática sobre as declarações do presidente da FCC em Lisboa, o Ministério dos Negócios Estrangeiro prestou a seguinte declaração oficial: «a garantia que o Estado português dá a qualquer dos seus aliados é que está bem consciente das questões de segurança nacional e sempre que elas se coloquem ou venham a colocar, direta ou indiretamente, toma as providências necessárias». Pode parecer uma declaração de circunstância, mas tendo em conta a recomendação feita pelo Governo no que toca às tecnologias chinesas, a frase pode ganhar um significado diplomático diferente.
A Huawei já tinha sido associada a uma controvérsia relacionada com viagens e convites endereçados a vários governantes e dirigentes da Administração Pública para assistir a jogos da Seleção Nacional no Campeonato Europeu que teve lugar em França.
O cerco comercial à Huawei e a outras marcas só viria a ganhar proporções em Portugal com a visita do presidente da FCC.
A Huawei ainda não reagiu à notícia do Público.