O título deste texto tem várias respostas possíveis, mas há três que servem de cartão de visita até para o mais veterano dos “tubarões” que andam à caça de novos negócios: A Slack tem hoje mais de oito milhões de utilizadores; é usada por mais de 500 mil empresas como ferramenta de trabalho que conecta outras ferramentas de trabalho; e está avaliada em mais de sete mil milhões de dólares. O que lhe valeu o título de startup com maior taxa de crescimento da atualidade – e foi com este cartão de visita que Cal Henderson, o líder da jovem startup que para os mais inexperientes poderá parecer que não acrescenta nada ao Whatsapp ou Messenger da Facebook, subiu ao palco principal no início desta terça-feira, segundo dia de Web Summit.
De calções e camisa veraneante, como manda uma certa tradição de empreendedores cujos espíritos parecem morar em Silicon Valley em permanência, Cal Henderson não desmereceu a sorte. «Uma coisa que nos ajudou a crescer foi o aparecimento de mensagens instantâneas», admitiu, para depois constatar: «já ninguém manda um e-mail para ir sair com um amigo».
Mais apps de mensagens significa mais concorrência – mas nem todas as apps de comunicação são iguais: a Slack nasceu de um projeto falhado na área dos videojogos, para se tornar num monstro das startups que se “limita” a fazer uma coisa nem será das mais atrativas para quem inicia um negócio de nova geração: além de permitir comunicar por voz e texto, esta app tem ainda o poder de se conectar com múltiplas outras, tornando o acesso à informação mais ágil – e sem ser necessário de mudar de ambiente ou cenário.
«Houve uma explosão de softwares usados nas empresas», descreve o líder da mais promissora das startups. Henderson conhece bem a ambivalência do software: por um lado, levou as empresas a tornarem-se mais eficientes, mas por outro lado acelerou a impaciência e a entropia resultantes da mudança de funcionalidades e ferramentas, da compatibilidade, da interação ou apenas dos formatos em que a informação se encontra.
De súbito, um único profissional passou a ter de lidar com uma ou mais dezenas de ferramentas digitais no dia-a-dia – e a informação passou a ficar armazenada em diferentes repositórios (ou “silos”, como se diz em “informatiquês”). Se multiplicarmos o número de funcionários pelo número de diferentes aplicações ou ferramentas que têm de ser usadas, depressa se chega a um cenário de diversidade tecnológica que nem todas as empresas – ou humanos – conseguem acompanhar em tempo útil. «As empresas que trabalham com Slack têm reduzido imenso o número de reuniões que têm de fazer, porque a informação já está no canal», lembra Cal Henderson.
E não é só o número de reuniões que diminui: os e-mails e as mensagens a perguntarem pela informação também entram em rota descendente; e o mesmo se passa com os telefonemas ou com o envio de documentos entre departamentos. O que deu ao Slack o título de “sistema operativo do trabalho”.
A comunicação tanto liberta como prende – e Cal Henderson não esqueceu de mencionar o esforço no desenvolvimento de ferramentas que permitem cortar com o trabalho, ou que simplesmente evitam incómodos fora de horas. Mas quanto ao segredo do sucesso recordou que houve algo mais que as funcionalidades que aceleram fluxos de informação e promovem o trabalho em equipa: «primeiro tivemos de agradar aos consumidores. Só depois disso se tornou mais fácil chegar às empresas».
A quem se inicia no admirável mundo das startups deixa um conselho: «sentir que estamos cheios de trabalho no dia-a-dia pode ser um sinal de que não estamos a ter uma visão de longo prazo».