Mark Zuckerberg criou uma tradição: todos os anos, em algum momento de janeiro, o líder da Facebook partilha aquele que é o seu grande objetivo para o novo ano. Já foi aprender mandarim, correr todos os dias, desenvolver sozinho um assistente virtual para a casa e visitar todos os estados dos EUA, entre outros objetivos. Agora, com a chegada do novo ano e da nova década, a tradição acabou.
«Esta década vou assumir um foco de longo termo. Em vez de ter desafios todos os anos, tentei pensar sobre aquilo que espero que o mundo e a minha vida vão ser em 2030, para que possa garantir que estou a focar-me nessas coisas», escreveu o norte-americano na rede social Facebook.
Zuckerberg não se comprometeu com projetos, nem fez promessas de lançamentos em datas específicas. Mas nas entrelinhas, o líder da Facebook e um dos homens mais influentes do mundo tecnológico disse aquelas que acredita serem as grandes mudanças que vão acontecer na próxima década.
«Mudanças geracionais»
O líder da rede social considera que algumas das principais preocupações das camadas mais jovens da sociedade atual – «alterações climáticas, custos da educação, habitação e saúde», exemplificou – não estão a ser devidamente endereçadas por quem está nas posições de decisão. Por isso a previsão de Zuckerberg é que elementos destas gerações mais jovens comecem a ganhar poder de decisão dentro das empresas. «Espero que mais instituições sejam dirigidas por millennials e mais políticas sejam definidas para endereçar estes problemas com perspetivas de longo prazo», sublinhou o líder da tecnológica.
Nesta vertente, Mark Zuckerberg quer usar os vários milhares de milhões de euros que tem destinados à fundação de filantropia Chan Zuckerberg para apoiar mais empreendedores jovens, cientistas e líderes que «possibilitem estas mudanças».
«Uma nova plataforma social privada»
Mark Zuckerberg está convencido que, na próxima década, algumas das mais importantes infraestruturas sociais ajudem as pessoas a «reconstruir todo o tipo de comunidade mais pequenas e que nos dão outra vez a sensação de intimidade». Significa isto que o Facebook vai lançar uma nova rede social, mas focada em pequenas comunidades?
O executivo pode estar a referir-se ao projeto que a Facebook tem em andamento para fundir as plataformas tecnológicas do Facebook, Instagram e WhatsApp, para que seja possível uma utilização sem barreiras entre os três gigantes sociais – mandar uma mensagem através do WhatsApp e receber no Facebook, por exemplo.
«Os nossos ambientes digitais sociais vão ser muito diferentes ao longo dos próximos cinco anos, dando ênfase às interações privadas e ajudando-nos a construir as comunidades mais pequenas que todos precisamos nas nossas vidas», acrescentou ainda sobre este tópico.
«Oportunidade de descentralização»
Esta foi a área na qual Mark Zuckerberg foi mais explícito sobre os planos da empresa que lidera. «Ao longo da próxima década, esperamos construir ferramentas de comércio e pagamentos para que todos os pequenos negócios tenham acesso fácil à mesma tecnologia que antes só as grandes empresas tinham».
As ambições da Facebook no comércio eletrónico não são novas – tanto o Facebook, como o Instagram, já permitem a venda de produtos – e a parte dos pagamentos parece indicar que o projeto Libra veio para ficar.
«Podemos fazer com que qualquer pessoa venda produtos através de uma montra no Instagram, fale e apoie os clientes através do Messenger, ou envie dinheiro para outro país instantaneamente e a baixo custo através do WhatsApp – isto permitirá criar mais oportunidades em todo o mundo», considera Zuckerberg.
«A próxima plataforma de computação»
Não é novidade que Mark Zuckerberg é um grande crente nas tecnologias de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA). Porquê? Porque ajudam a resolver um dos maiores problemas das redes sociais atuais – permitem às pessoas estar em contacto, mas não resolve a falta de “presença”. É justamente aqui que entra a RV e RA.
«Apesar de esperar que os telefones continuem a ser o nosso dispositivo principal durante a maior parte da década, em algum ponto na década de 2020 vamos ter avanços em óculos de realidade aumentada que vão redefinir a nossa relação com a tecnologia», garante o multimilionário.
Um exemplo: se atualmente muitos jovens pensam que é necessário ir viver para as grandes cidades para arranjar um trabalho, o sentimento de presença que a RA e RV vão permitir criar um novo paradigma. «Imagina que podes viver em qualquer sítio que queiras e aceder a qualquer trabalho em qualquer lado. Se conseguirmos entregar aquilo que estamos a desenvolver, isto vai ficar muito mais próximo da realidade em 2030».
«Novas formas de governação»
Para terminar a antevisão para a nova década, Mark Zuckerberg faz um mea culpa. «Não acho que as empresas privadas devam tomar tantas decisões importantes que tocam os nossos valores fundamentais de democracia».
Mark Zuckerberg pede que os governos criem regras mais claras em torno de temas como as eleições, conteúdo ofensivo, privacidade e portabilidade de dados. «Espero que na próxima década tenhamos regras mais claras para a internet».
A Facebook vai também querer apostar na criação de órgãos independentes e que terão a última palavra a dizer – valendo mesmo mais do que a decisão da própria empresa – sobre questões nas quais os utilizadores considerem que a postura da tecnológica não é a mais correta.