Este ano, o programa BfK contou com a participação de 29 instituições de Ensino Superior nacionais e a final decorreu no final da semana passada no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, com a distinção de quatro vencedores. O objetivo da iniciativa é ajudar na transferência de conhecimento das instituições do Ensino Superior para o tecido empresarial. Universidade do Porto, UTAD, UBI e o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave apresentaram projetos vencedores.
O projeto OrgaValue, da Universidade do Porto, almeja salvar 50 mil vidas por ano mudando o paradigma dos transplantes de fígado. A lista de espera por um transplante deste órgão é bastante extensa e todos os anos são desperdiçados 28 mil fígados que poderiam salvar a vida de 50 mil pessoas. O principal entrave à utilização prende-se com a qualidade dos órgãos, algo que a OrgaValue pretende combater: a equipa desenvolveu uma tecnologia de bioengenharia inovadora que permite a reabilitação de órgãos humanos, tornando-os transplantáveis. A solução líquida de limpeza remove as células e deixa uma matriz não celular com a matriz orgânica apropriada para receber novas células humanas saudáveis, com o processo a ser otimizado pela máquina de perfusão da OrgaValue.
A segunda iniciativa vencedora vem da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e é um produto terapêutico, eficaz na regeneração de feridas complexas em animais, com propriedades antimicrobiana e analgésica, sendo biocompatível, biodegradável e sustentável. A patente para este produto está em curso e já existem artigos científicos revistos por pares publicados. O PlatGen, mais do que cicatrizar, estimula e acelera os mecanismos de regeneração tecidular e é constituído por proteínas de elevado valor biológico derivadas de plaquetas e leucócitos, podendo ser aplicado mesmo em lesões de grande dimensão. Para já, o produto destina-se a tratar feridas de cães e gatos, mas a equipa pretende estender o uso para outras espécies, incluindo humanos.
A terceira iniciativa incide sobre a construção civil, com a Universidade da Beira Interior a propor o BOB, Building Out of the Box, para minimizar a pegada ambiental e aumentar a produtividade no setor. A solução inovadora assenta em três vertentes: digitalização do processo comercial de empresas de impressão 3D de betão e outras argamassas, impressão 3D de vários elementos decorativos e estruturais e investigação e desenvolvimento de materiais de impressão através do aproveitamento de resíduos industriais, de minas e outros. Esta investigação está já no terreno, no município do Fundão, onde os promotores estão a digitalizar prédios devolutos e a desenvolver módulos que se encaixem nas estruturas existentes, como se fosse um jogo de Tetris.
Por fim, As Aventuras de Lexie é o projeto do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, que pretende gamificar a dislexia, promovendo a intervenção precoce numa perturbação neurobiológica que afeta uma em cada cinco pessoas em todo o mundo e que motiva o abandono escolar por 50% das crianças afetadas. O jogo proposto permite, de forma divertida, ultrapassar as limitações de aprendizagem, com o conceito a assentar na oportunidade de as crianças interagirem com as várias personagens e obter satisfação a jogar e praticar os exercícios propostos. O jogo permite a pais, educadores, terapeutas e psicólogos o acesso a todos os dados de resultados para poderem acompanhar o desenvolvimento da criança durante o período de jogabilidade.
João Borga, administrador da ANI, acredita que a investigação científica produzida nas instituições de Ensino Superior é cada vez mais surpreendente e encoraja os vencedores do BfK e todos os participantes a aproveitar as oportunidades para chegar ao mercado.