Os investigadores do consórcio EUROfusion, cofinanciados pela Comissão Europeia e que incluem investigadores do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, usaram o dispositivo Joint European Torus (JET) para atingir um valor recorde de 59 megajoules de energia de fusão de um modo sustentado.
Nesta experiência, o JET produziu um total de 59 megajoules de energia térmica de fusão durante um período de cinco segundos, atingindo uma potência média de fusão de 11 megajoules por segundo. Este resultado surge no seguimento da campanha experimental concebida pelo EUROfusion, com o objetivo de testar mais de duas décadas de avanços na fusão, e assim otimizar o arranque do projeto internacional ITER – um projeto de investigação em fusão, maior e mais avançado do que o JET, que visa demonstrar a viabilidade científica e tecnológica da energia de fusão. O anterior recorde de energia numa experiência de fusão, também alcançado no JET em 1997, foi de 21,7 megajoules de energia térmica. Já a potência de pico de 16 MW alcançada, brevemente, em 1997 não foi ultrapassada nas experiências mais recentes, pois o foco tem sido obter energia de fusão sustentável.
O JET é um dispositivo de fusão onde se criam plasmas capazes de atingir temperaturas de 150 milhões de graus Celsius, dez vezes mais quentes que o centro de sol. Instalado perto de Oxford, no Reino Unido, este pode atingir condições semelhantes às do ITER e às das futuras centrais de fusão, e é o único tokamak operacional no mundo onde se consegue usar a mesma mistura de combustível deutério-trítio (D-T) planeada para esses dispositivos.
Para os responsáveis, o novo recorde é uma demonstração da fusão nuclear como um meio seguro, eficiente e de baixas emissões para enfrentar a crise energética global. Tony Donné, CEO do EUROfusion, afirmou em comunicado que o valor “mostra que estamos no caminho certo para um futuro movido a energia de fusão” e que “se conseguimos manter a fusão por cinco segundos, podemos vir a fazê-lo por cinco minutos e depois por cinco horas”, realçando que “a experiência operacional” dá “uma grande confiança para a próxima etapa de experiências no ITER e na central energética de demonstração Europeia, EU DEMO, que está a ser projetada para fornecer eletricidade”. Bernard Bigot, Diretor-Geral do ITER, disse ainda que a “fusão baseada na mistura deutério-trítio a este nível de energia – quase à escala industrial – representa uma confirmação avassaladora para todos os que estão envolvidos no esforço global da investigação em fusão”.
A fusão nuclear é o processo que alimenta estrelas como o Sol, e representa uma fonte de eletricidade limpa, quase limitada e de longo prazo, utilizando pequenas quantidades de combustível que podem ser obtidas a partir de materiais baratos no mundo inteiro. O processo de fusão consiste em juntar átomos de elementos leves, como o hidrogénio, a altas temperaturas, formando hélio e libertando uma enorme quantidade de energia na forma de calor. Dado que não pode dar origem a um processo de produção descontrolado, a fusão pode considerar-se segura e os investigadores veem-na como o futuro da produção de energia.