A comunidade queer, entre outros segmentos da população, estão entre os membros mais ativos na procura de espaços semi públicos para ter relações sexuais. Em alguns cenários, esta acaba por ser a forma mais segura (e, por vezes, alvo de fetiches também) para estes elementos poderem praticar sexo sem terem de se assumir nas suas comunidades, optando por parques, matas e praias. A prática, no entanto, tem um impacto considerável nas dunas de Gran Canária.
Um estudo da Universidade de Las Palmas e da Universidade de Flinders, Austrália, publicado no Journal of Environmental Management, conclui que há danos em dez espécies de plantas, incluindo três endémicas desta região e na vida animal local. Décadas de relações sexuais e ocupação destes espaços resultaram na danificação dos campos dunares transgressivos (que resultam da deslocação de areia por cima da vegetação), que não se encontram em mais lado algum no mundo. No relatório, lê-se que, por exemplo, houve lagartos gigantes que morreram depois de terem ingerido preservativos usados.
Os investigadores defendem que este é o primeiro estudo que examina o impacto do turismo sexual no ambiente. Foram identificados 298 ‘spots’ sexuais na zona de Maspalomas, a sul da Gran Canária. A região envolvente é fértil em resorts e campos de golfe, muitos orientados especificamente para a comunidade gay.
“A quase constante presença de pessoas significa que os processos dominantes são de origem e indução humana, como pisarem plantas, removerem plantas e areais, criando ‘ninhos’ usando a vegetação nativa ou a depositar lixo”, explica o documento. Beatas de cigarros, vegetação cortada ou amassada, papel higiénico e lenços, preservativos, casca de fruta, latas e dejetos estão entre as categorias do lixo encontrado.
Os autores fazem questão de salientar que o estudo não deve ser visto como uma tentativa de criticar as comunidades que fazem sexo nas dunas, mas sim salientar o impacto que essa atividade possa ter. “Não estamos a pedir o fim do sexo em público, mas queremos que as pessoas tenham consciência dos danos que isso pode significar”, afirma o coordenador dos trabalhos.