O que acontece quando um “lander” aterra em Marte? Em Darmstadt, cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) tentam apurar a resposta, através da análise entre os sinais de rádio captados pelo orbitador Mars Express e pelo Giant Metrewave Radio Telescope (GMRT), que opera em Pune, Índia. Só após esta análise será possível dissipar – ou pelo menos amenizar – as dúvidas e fazer um balanço final da missão ExoMars.
Ontem, a ESA confirmou que o Orbitador de Deteção de Gases (TGO) foi colocado em órbita em torno do planeta vermelho com sucesso, mas quanto ao módulo Schiaparelli, que deveria aterrar em Marte, não há ainda dados oficiais sobre o sucedido.
A ESA ainda não confirmou o pior dos cenários, mas as primeiras palavras sobre o assunto não deixam muita margem de esperança quanto ao estado em que se encontra o módulo da ExoMars, que deveria protagonizar um marco histórico da capacidade tecnológica europeia, com a aterragem em Marte. «Os dados parcialmente analisados confirmam que a entrada e as fases de descida ocorreram como esperado, com situações divergentes das previstas depois de ter sido feita a ejeção do escudo de proteção de calor traseiro e do paraquedas. Esta ejeção aparentemente aconteceu antes do esperado, mas as análises ainda não estão concluídas», refere o comunicado da ESA.
A agência espacial refere ainda que há confirmação de que os propulsores foram ativados durante um curto período, «apesar de aparentemente terem sido desligados antes do esperado, a uma altitude que ainda não determinada».
Será esta a crónica de uma explosão anunciada? Ou apenas de uma desastrosa queda livre? A ESA garante que os dados que vão ser analisados durante as próximas horas não deverão deixar margem para dúvidas sobre o que terá acontecido.
Jan Wörner, diretor geral da ESA, prefere lembrar que a entrada em órbita do módulo TGO foi bem-sucedida. O que não invalida as reticências agora suscitadas quanto à “segunda parte” da Missão ExoMars. Em 2020, a ESA deverá lançar uma nova sonda a Marte que já deverá incorporar um Rover – à semelhança do que a NASA já fez no passado. Se não puder reivindicar o sucesso nesta primeira missão, a ESA não terá outra alternativa senão remeter a estreia nas aterragens em Marte para a viagem de 2020.
«O principal objetivo do Schiaparelli era testar as tecnologias de aterragem europeias. Registar dados durante a descida fazia parte desse objetivo, e é importante que possamos apreender com o que aconteceu, a fim de podermos preparar o futuro», comentou o diretor-geral da ESA.
A análise dos dados vai prosseguir, mas é cada vez mais indisfarçável a similaridade entre o tom das palavras dos responsáveis da ESA e alguns discursos dos treinadores de futebol depois de uma derrota. Em declarações reproduzidas pela Space.com, Paolo Ferri, líder do Departamento de Operações da ESA, dá uma ideia do espírito reinante entre os cientistas engenheiros que se encontram em Darmstadt: «é claro que estes sinais (recebidos até ontem) não são bons, mas ainda precisamos de mais informação, e é isso que vamos ter esta noite (ontem)».
Tudo leva a crer que, nas próximas horas, a ESA deverá anunciar o que aconteceu afinal ao módulo Schiaparelli.