Nos últimos 12 meses, o tema da saúde ganhou um protagonismo sem precedentes, com as tecnologias relacionadas com a atividade a atraírem cada vez mais as luzes da ribalta. O confinamento obrigou a adaptações na organização e na prestação dos serviços de saúde, tornando ainda mais relevante o papel da tecnologia. Consultas por videochamada, monitorização de pacientes à distância, e uma série de serviços disponíveis através de um clique, tornaram visíveis soluções tecnológicas que não são novas, e que desde há muito colocam Portugal num bom patamar de desenvolvimento. Em 2018, e de acordo com o relatório “Hintt – Health Intelligent Talks & Trends”, Portugal estava acima da média europeia na utilização de tecnologias na saúde quando comparado com outros países europeus, Canadá ou Estados Unidos.
Já em 2020, e em plena pandemia, o estudo “Closing the digital gap: Shaping the future of European healthcare”, realizado pela consultora Deloitte, revelava que, de entre sete países (Portugal, Itália, Alemanha, Reino Unido, Países Baixos, Dinamarca e Noruega), Portugal foi um dos mais dinâmicos na adoção de tecnologias para responder à Covid-19.
No entanto, o pioneirismo na utilização da tecnologia aplicada à saúde remete-nos para a década de 90 do século passado. A solução Medigraf desenvolvida pela agora Altice Labs é uma das referências na utilização da telemedicina no Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra, mais concretamente no Hospital Pediátrico. A experiência teve início na Cardiologia Pediátrica, tendo posteriormente sido alargada a outras especialidades, em Portugal e com ligações a PALOPS. O objetivo inicial passava pela necessidade de dar resposta à escassez de médicos especialistas em determinadas zonas do país, funcionando hoje em rede com hospitais e maternidades da região Centro e alguns na região Norte, e também no estrangeiro no Hospital Pediátrico de Luanda e no âmbito do programa de intervenção em saúde, levado a cabo pelo Instituto Marquês Vale Flôr em S. Tomé e Príncipe. A plataforma promove o trabalho colaborativo, garantindo a partilha em tempo real de exames e a realização de teleconsultas.
Diagnosticar e tratar à distância
A rapidez e a eficiência na prestação de cuidados de saúde, a par com a acessibilidade aos serviços, são algumas das vantagens mais óbvias da utilização da tecnologia ao serviço da saúde, que pode materializar-se nas mais diversas soluções, a começar pelos cuidados primários. A telemonitorização e a telemedicina, por exemplo, permitem acompanhar diariamente doentes crónicos, idosos e populações mais vulneráveis com serviços de monitorização de sinais vitais e suporte à gestão da doença, e realizar consultas médicas por videochamada, sem a necessidade de deslocação do doente. “A solução SmartAL, que desenvolvemos na Altice Labs, permite acompanhar, em tempo real, doentes em convalescença, idosos ou fazer follow-up pós-hospitalar, por via de telemonitorização de sinais vitais, videoconsulta e suporte a atividades relacionadas com a saúde, o bem-estar e a segurança”, destaca Nuno Nunes, CSO da Altice Portugal, responsável pelo segmento B2B que endereça ao mercado com a marca Altice Empresas.
Para o responsável, “a pandemia veio de facto acelerar respostas face a novos requisitos de clientes numa situação atípica”, o que motivou a empresa a desenvolver, por exemplo, a solução de atendimento a utentes do SNS, com recurso a Assistentes Virtuais (BOTs), que permite um atendimento e triagem mais rápidos, ou a plataforma de atendimento por videochamada, que dispõe de intérpretes de língua gestual portuguesa, destinada à comunidade surda. “Para a saúde, tal como para outros setores, houve ainda a necessidade de evolução de funcionalidades e capacidade de resposta em muitas ofertas existentes como, por exemplo, o acesso remoto e seguro a redes das empresas (VPN)”, reforça o CSO.
Paralelamente, quer as Big Tech (Google, Apple, Microsoft, etc.), quer startups disruptivas na área da saúde têm vindo a reforçar investimentos na securização e privacidade de plataformas de comunicação e de diagnóstico remoto, e no desenvolvimento de dispositivos wearable de monitorização, nomeadamente para a população idosa, com um foco grande na facilidade de utilização criando interfaces user friendly.
No entanto, não é apenas na prestação de cuidados de saúde à distância que a tecnologia irá desempenhar um papel cada vez mais relevante. Também nas áreas da Inteligência artificial (IA) e da análise de dados (Data Science) estão a ser trabalhados grandes volumes de informação sobre doenças à escala global, cujo objetivo é o de aprofundar e partilhar o conhecimento entre a comunidade científica, com tradução prática em modelos preditivos automatizados que permitirão diagnósticos e terapêuticas mais eficazes e personalizadas. “A segurança e fiabilidade da informação são particularmente críticas na área da saúde, pelo que qualquer solução deve assentar em infra-estruturas ICT state-of-the-art e em redes de comunicação de última geração, com elevada qualidade de transmissão e baixa latência (fibra e 5G)”, salienta Nuno Nunes. O recurso a serviços de Cloud e Data Center para armazenamento seguro de dados tais como imagens, relatórios clínicos, entre outros, a avaliação de soluções de Backup e Disaster Recovery para a informação relacionada com registos médicos de consultas e diagnósticos é também uma garantia de segurança e qualidade obrigatória no panorama atual.
A transformação digital, transversal a todos os setores económicos continuará a acontecer a um ritmo acelerado, materializando em realidade alguns conceitos que antes conhecíamos apenas da ficção científica. Robôs que dão apoio aos médicos em cirurgias, diagnósticos apoiados em IA e Machine Learning, ou sistemas inteligentes que detetam anomalias nos pacientes e que, de imediato, recomendam uma intervenção fazem hoje parte do dia-a-dia da atividade médica. Já do lado do utente crescem as funcionalidades de gestão do próprio processo clínico, como a marcação de consultas online, o registo eletrónico ou a prescrição eletrónica, acessíveis a cada vez mais utilizadores.
Contudo, pode dizer-se que este é um processo de revolução em curso porque há desafios que ainda é preciso ultrapassar. Segundo os profissionais de saúde inquiridos pelo estudo “Closing the digital gap: Shaping the future of European healthcare”, os principais são os menos tecnológicos, mas aqueles que dependem de alguma mudança de mentalidades e de organização. A burocracia dos sistemas de saúde é a barreira mais apontada, por 57% dos inquiridos, seguida dos custos da tecnologia (50%) – que muitas vezes ainda não é encarada como um investimento na produtividade e na competitividade -, a seleção das tecnologias certas (49%), e a formação dos profissionais, preocupação que inquieta 44% dos inquiridos. O mesmo estudo conclui ainda que a pressão continua do lado da procura, uma vez que a população está cada vez mais envelhecida e sofre de comorbilidades. Em paralelo, o número de profissionais de saúde tende a reduzir-se ao longo desta década, assim como a disponibilidade financeira e a falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde. Neste cenário, a digitalização fará parte da solução, reforçando a eficiência dos serviços, a facilidade de contacto e a rapidez da resposta, num contexto evolutivo que permita ao setor adaptar-se às novas tendências e mobilidade que caracterizam os novos estilos de vida (digital lifestyle).
Tecnologias que vão revolucionar a saúde
– 5G terá múltiplas aplicações nomeadamente na perceção remota dos pacientes através de bio-sensores, bem como no tratamento e diagnóstico colaborativo entre equipas especializadas, com transmissão e partilha de grandes volumes de informação em tempo real, mesmo em mobilidade. Esta será também a conetividade por excelência que suportará as aplicações de AR/VR aplicadas à formação e prática médica ou à recuperação e de pacientes
– Medical IoT com dispositivos wearable para utilização crescente em monitorização remota de pacientes, mas também gestão de ativos (eletrónica médica, stocks, etc…)
– Chatbots & Digital Assistants com utilização na identificação de riscos e sistemas de triagem
– Realidade aumentada e virtual para criação de ambientes de formação, gamificação e demonstração de tratamento a pacientes, e soluções inovadoras de tratamento (por exemplo na doença mental)
– Inteligência Artificial (IA), Big Data e Machine Learning com largo campo de aplicação, nomeadamente apoio no diagnóstico e na deteção precoce médica, tomada de decisão, ou tratamento personalizado.