A partida está marcada para o dia 13 de abril, às 12h15 UTC, da Guiana Francesa, a bordo do foguete Ariane 5. O destino é Júpiter, o gigante gasoso, e três das suas luas. Bruno Sousa, 48 anos, engenheiro aeroespacial, é um dos diretores de voo desta missão da Agência Espacial Europeia. Tem como missão supervisionar a execução das operações, ajuda a equipa no processo de decisão, assegura a coordenação das operações do satélite com as outras operações (do lançador, do segmento de terra…). Também dá a cara pela equipa, protege a equipa, contribui com a sua experiência, e “não menos importante, assegura que há chocolate por perto quando é preciso.” Em resumo, é um dos responsáveis por assegurar que tudo corre de acordo com os planos, que estão todos alinhados. “É quem toma as decisões difíceis”. Além de Bruno, há mais dois portugueses – Marta Pantoquilho, coordenadora do Software (assegura que os sistemas de dados estão a funcionar) e Filipe Metelo, como Simulation Officer durante o treino da equipa – a pôr a Europa no caminho do maior planeta do Sistema Solar.
Porque se decidiu ir agora a Júpiter?
O momento para Júpiter é propício porque podemos criar muitas sinergias e complementaridade com as missões Juno [atualmente na órbita de Júpiter] e Europa Clipper [que estuda a lua de Júpiter, Europa] da NASA. Além disso, é o passo lógico seguinte na estratégia da ESA de exploração do Sistema Solar: já estamos em Marte com duas missões, já fomos a Vénus, estamos a caminho de Mercúrio, estamos perto do Sol, já aterrámos num cometa e na lua Titã, de Saturno, agora chegou a vez de Júpiter e das suas luas – um lugar fascinante que nos dará preciosas pistas acerca da formação do nosso Sistema Solar e da possibilidade de encontrar mundos habitáveis.
O que destaca nesta missão, em termos científicos?
Esta missão tem muitas coisas especiais, mas em termos de equipamentos científicos destaco um radar para penetrar debaixo da camada espessa de gelo e explorar os oceanos das luas de Júpiter (em particular Ganímedes).
E na nave, quais as especificidades?
Dos equipamentos das naves destaco um sofisticado sistema de navegação ótica (EAGLE) que nos vai ajudar a apontar os instrumentos com precisão quando estivermos a passar pertinho das luas. O roteiro pelas luas vai ser um extraordinário jogo de ping-pong espacial.
Como chegou a esta posição de Diretor de Voo?
Para chegar aqui foi preciso ganhar muita experiência em lidar com vários satélites. Desde gerir o desenvolvimento do segmento de terra necessário a assegurar o controlo e monitorização dos satélites, a seguir o planeamento e desenvolvimento de novas missões, e a operar satélites em diferentes fases. A minha unidade é responsável pelas operações de três missões, incluindo seis satélites: quatro que voam em formação em torno da Terra a estudar a magnetosfera (Cluster), um a estudar o sol de muito perto (Solar Orbiter) e outro a caminho de Mercúrio (Bepi Colombo). Para o lançamento do Juice tive a sorte de ter tido a oportunidade de ser um dos diretores de voo, mas assim que este satélite esteja em cruzeiro regresso aos meus. O próximo desafio será preparar a chegada de Bepi Colombo à sua órbita final em Mercúrio, aí serei o diretor de voo principal da missão. Ao fim de vinte anos aqui na Agência chegou a minha vez e estou mesmo feliz por isso!
Quando decidiu estudar engenharia aeroespacial era este percurso que tinha em mente?
O meu bisavô era capitão da marinha mercante navegando o seu veleiro entre Cabo Verde e os Estados Unidos e devo ter herdado dele o prazer de estar aos comandos de uma nave. Não tinha a certeza acerca da forma como assumiria a minha vocação quando fui para Aeroespacial, mas agora sei que fiz o caminho certo, e quando estou na sala de controlo estou no meu elemento.
Como se sente nestes dias que antecedem o lançamento, muito nervoso?
Sinto-me sobretudo muito entusiasmado e ansioso para que o dia do lançamento chegue depressa. Como um puto quando o verão chega e os pais estão a empacotar o carro para ir de férias e mal se pode esperar para nos pormos a caminho. Vou, literalmente, sentir-me no banco detrás, o do diretor de voo, enquanto a equipa à minha frente se põe aos comandos da nave em direção a Júpiter. Mas que loucura! Por estes dias tenho visto Júpiter no céu limpo ao anoitecer, extremamente brilhante, na direção do sol poente, e mal consigo acreditar que estamos mesmo à beira de começar a viagem de oito anos desta nave rumo àquele sítio…
Há alguma coisa que possa pôr em risco o lançamento?
Em relação à missão em si há pouco que me preocupe. O satélite foi desenvolvido por uma equipa com grande experiência – que já desenvolveu a Rosetta [missão a um cometa] – e pelo que vimos nos testes porta-se lindamente. O foguetão tem um registo de sucesso formidável e a nossa equipa está muito bem treinada. Preocupa-me mais a meteorologia que permita um lançamento a horas (a nossa janela é apertada) e que as greves recentes em França não afetem de alguma forma as equipas na Guiana Francesa.