Na primeira demonstração de processamento de recursos in situ para uso humano noutro planeta, a NASA revela que conseguiu produzir oxigénio com sucesso na superfície de Marte com recurso à MOXIE, de Mars Oxigen In-Situ Resource Utilization Experiment. Este aparelho, do tamanho de uma pequena mala, conseguiu produzir oxigénio sete vezes entre fevereiro e dezembro de 2021.
A NASA explica que o aparelho vai ser usado mais vezes nos próximos tempos e detalha que é através do processo de eletrólise que é feita a separação do dióxido de carbono de Marte em monóxido de carbono e oxigénio. A Estação Espacial Internacional, por exemplo, usa o mesmo processo para separar água em hidrogénio e oxigénio e obter assim fornecido de ar respirável. Em Marte, dada a escassez de água, os investigadores viraram-se para o dióxido de carbono que compõe 96% da atmosfera e que integra uma parte de carbono e duas de oxigénio. O desafio maior foi desenvolver, em Terra, um instrumento que pudesse fazer a eletrólise em Marte, explica o ScienceAlert.
A MOXIE ‘aspira’ ar marciano por um filtro para o purificar, comprime-o, aquece-o e envia-o para o Solid Oxide Electrolyzer (SOXE). É este componente que faz a divisão da molécula e expele o monóxido de carbono de volta para a atmosfera. Os iões de oxigénio restantes são recombinados em O2 ou em oxigénio molecular que foi depois medido para aferir a sua quantidade e pureza e depois expelido novamente.
Em cada uma das sete sessões de demonstração, o aparelho demorou várias horas a aquecer, esteve em produção durante uma hora e depois precisou de um período de arrefecimento. O MOXIE está desenhado para ser capaz de produzir cerca de 10 gramas de oxigénio respirável, o equivalente a 20 minutos de respiração de um astronauta. Nas experiências, produziu entre 5,4 e 8,9 gramas de oxigénio molecular, num total de 49,9 gramas.
Michael Hecht, do Observatório Haystack do MIT, explica que “a única parte que não demonstramos foi correr na madrugada ou ao anoitecer, quando as temperaturas estão a mudar substancialmente. Temos um ás na manga que nos permite fazer isso e, assim que o testemos no laboratório, podemos alcançar essa última meta para mostrar que podemos fazer o processo a qualquer altura”.
A próxima ronda de testes deve acontecer quando a atmosfera estiver no seu ponto mais alto de densidade, para se averiguar a capacidade de produção de oxigénio nestas circunstâncias.
Para suprimir as necessidades de uma população de astronautas, estima-se que seja necessária uma tonelada métrica de oxigénio para um ano, mais cerca de 500 toneladas para propulsionar o veículo de volta para a Terra, pelo que terão de ser desenvolvidos aparelhos muito maiores e com maior capacidade do que o MOXIE.