Já conduzimos o novo Nissan Qashqai, que chega aos stands hoje. Um modelo que, pela primeira vez, é eletrificado. E em toda a gama. Primeiro com um motor a gasolina 1.3 associado a um sistema mild hybrid de 12 volts, disponível em dois níveis de potência (140 e 158 cavalos). Mas a versão mais esperada só chega a partir do verão do próximo ano: o e-Power, de que falaremos mais à frente. Por enquanto, só mesmo o mild hybid (MHEV) que representa um nível de eletrificação diminuto: este carro não pode ser movido apenas com recurso a um motor elétrico. O sistema MHEV é usado para ajudar o motor a gasolina, diminuindo, mesmo que ligeiramente, as emissões de gases e o consumo de gasolina. Segundo a Nissan, a redução de CO2 conseguida pelo MHEV é de quatro gramas por quilómetro – muito pouco – e os consumos variam de 6,4 a 7,1 litros aos 100 km, dependendo da versão – existem quatro, duas de caixa manual (140 e 158 cavalos) com tração frontal e duas de caixa automática (158 cavalos), sendo que uma delas tem tração integral.
Na nossa experiência, com condução viva e ar condicionado sempre ligado, fizemos médias entre 7 e 9 litros aos 100km ao volante das duas versões mais potentes, uma com caixa manual e outra com caixa automática (ambas 2WD). O que nos faz acreditar que, em outras condições, seria possível atingir as médias anunciadas. Mas, para a marca que criou o primeiro carro elétrico de produção em série, o LEAF, esperávamos um nível superior de eletrificação logo no lançamento.
SUV com comportamento de carro
A evolução é evidente em vários aspetos. No exterior, consideramos que a terceira geração do Qasqhai consegue apresentar linhas modernas e distintivas, mas mantendo algum conservadorismo de modo a atrair novo público sem afastar os clientes do modelo. Um equilíbrio bem conseguido e, importante, um design que mantém a identidade Qasqhai. No interior as diferenças são maiores. O nível de conforto subiu consideravelmente. Os bancos estão acima do que é habitual no segmento; há mais espaço para os passageiros do banco de trás e a disposição do tablier é bem diferente.
Onde se nota mais a evolução é ao volante. O nível de insonorização surpreendeu-nos. Quase parece que estamos a conduzir um elétrico. Na verdade, como estamos habituados a conduzir elétricos e começámos com o Qashqai com caixa automática, confessámos que, quando mudámos para o Qashqai com caixa manual, foi preciso algum tempo de habituação até percebermos quais os pontos mais apropriados para passagem de caixa – a tal falta de ruído levava-nos quase esquecer que estávamos a conduzir um carro com caixa manual.
Não fizemos medições científicas e conduzimos as duas versões em estradas diferentes, mas pareceu-nos que é fácil baixar os consumos com a versão equipada com caixa manual. Isto apesar de a caixa automática adaptar-se muito bem ao estilo de condução: se optarmos por uma condução mais viva, as mudanças entram em rotações mais elevadas; se optarmos por uma condução mais tranquila, então o sistema adota passagens de caixa em rotações mais baixas, o que reduz o ruído e o consumo. Já agora, a caixa automática agradou-nos muito: rápida e precisa. Quase não se dá por ela e isso é bom.
Superconectado
O Qashqai de terceira geração apresenta um generoso painel digital (de série nas versões N-Connecta e superiores) no lugar do painel de instrumentos tradicional. Um painel realmente grande, que facilita a leitura da muita informação que pode ser apresentada de modo dinâmico. O controlo é intuitivo e simples: os menus são explorados segundo o sistema tradicional de dois eixos com controlo por teclas direcionais colocadas no lado esquerdo do volante. Talvez porque o ecrã é muito grande, nota-se que a resolução não é elevada, embora seja satisfatória. Grande é, também, o Head-Up Display – dimensão típica do segmento premium – onde podemos ver a velocidade instantânea, os sinais de trânsito e as indicações de navegação. O que significa que podemos ter acesso à informação mais importante sem retirar os olhos da estrada. A não ser que, como aconteceu connosco, o condutor use óculos de sol polarizados e se conduza sob forte luz do Sol. Neste caso, o HUD perde boa parte da visibilidade.
Ao centro temos um ecrã tátil que, felizmente, é bem complementado por botões de acesso direto para as funções mais utilizadas, incluindo uma roda de comando para o volume – dizemos e repetimos, não há forma mais prática para controlar o volume do que uma roda física. Há suporte para Android Auto e Apple CarPlay, mas só este último tem direto a ligação wireless. Para usar Android Auto é necessário recorrer a ligação USB, portas (tipo A e tipo C) que estão escondidas no espaço de arrumação central. Há, ainda, carregador sem fios, embora a obrigatoriedade de ligar os smartphones Android por cabo reduza a vantagem funcional deste tipo de carregador. As crianças vão gostar das portas USB para os bancos de trás.
Quanto à interface, nada de novo. A Nissan manteve a interface gráfica que já conhecíamos de modelos anteriores, que não é particularmente feliz em termos de design e facilidade de uso. Este ecrã também não impressiona na resolução, mas não nos podemos esquecer que o Qashqai não é um carro premium e, como tal, temos de dar nota positiva à qualidade do ecrã.
Falar com o carro
Mas há mais serviços remotos. Muitos mais. A começar pelo suporte dos assistentes Alexa e da Google no Home to car. Quer isto dizer que é possível, usando o smartphone ou colunas inteligentes, interagir remotamente com o Nissan através de linguagem natural. Pelo que percebemos, o sistema só ainda está disponível se configurarmos os assistentes para inglês. Mas é possível, por exemplo, perguntar ao assistente se as portas estão trancadas ou pedir para ativar as luzes para facilitar a identificação da posição do carro num parque de estacionamento. Via a app da Nissan podemos trancar/destrancar as portas, ativar luzes e buzina e localizar o veículo. Na componente navegação, destaque para trânsito em tempo real, navegação porta-a-porta, pontos de interesse Google, street view e vista satélite e informações de preço de combustíveis. Finalmente, é possível ter serviço Wi-Fi a bordo, o único serviço conectado que é pago logo após a aquisição do carro, com preços mensais que variam de €9,99 para 2 GB de tráfico até €99,99 para 50 GB de tráfego. Não é nada barato, mas pode ser importante para alguns utilizadores como, por exemplo, serviços de transporte que queiram oferecer Wi-Fi aos clientes.
Todos os outros serviços conectados são grátis nos três primeiros anos. Após o período gratuito, não há um, mas sim três preços (sem contar com o Wi-Fi): €3,99 para a Navegação e Condução, €1,99 para a Comodidade e conforto (acesso remoto e ligação ao Call Center para suporte) e €0,99 para Segurança e Estado do Automóvel (chamada para a assistência técnica, informações sobre o estado do veículo e alertas inteligentes). Questionámos a Nissan sobre as razões desta aparente complexidade de serviços e a justificação é simples: permitir que os clientes paguem apenas pelos serviços que consideram importantes. Faz sentido, mas também faria sentido ter um valor único para todos estes serviços, até porque alguns são demasiado específicos.
e-Power: elétrico a gasolina
O Qashqai será o primeiro carro na Europa a usar a arquitetura e-Power, que a Nissan já usa há alguns anos, com muito sucesso comercial, no Japão. Neste sistema, o carro é movido exclusivamente por um motor elétrico, mas não pode ser carregado a partir de uma fonte externa – não tem tomadas de carregamento. A energia é produzida a bordo a partir de um gerador elétrico alimentado por um motor a gasolina. Desta forma, anuncia a Nissan, o carro terá um comportamento dinâmico semelhante a um 100% elétrico, com destaque para a forte aceleração resultante do grande binário e condução suave contínua (sem recurso a caixa de velocidades). A Nissan não esconde que esta tecnologia não é tão eficiente nem amiga do ambiente quanto os 100% elétricos, que a marca considera fundamentais para a mobilidade inteligente do futuro – por isso mesmo, o SUV Arya, 100% elétrico, chegará ao mercado nos próximos meses. No entanto, para os responsáveis da Nissan, o e-Power será uma solução apelativa para que não pode escolher um 100% elétrico. Relativamente aos híbridos plug-in tradicionais, a Nissan garante que o e-Power terá a vantagem de ter um preço muito mais acessível. Apesar de ainda não ter indicado o preço para o Qashqai e-Power, a marca fala num valor pouco acima das versões agora lançadas. “Será uma solução ideal para ocupar o lugar dos Diesel, já que terá custos de utilização e comportamento semelhantes”, referiu Isilda Amaral, diretora de marketing da Nissan, em resposta aos jornalistas.
Primeira opinião
Esperávamos mais eletrificação na terceira geração do Qashqai. O mild hybrid de 12 volts pouco mais é do que um start & stop avançado. Teremos de esperar pelo e-Power para perceber até que ponto esta tecnologia será capaz de cumprir a promessa de oferecer a experiência de condução de um elétrico, consumos de gasolina baixos e a um preço de aquisição muito mais competitivo do que os híbridos plug-in. Como é público, consideramos que o caminho certo é o da eletrificação total, mas percebemos que para muitos utilizadores tal ainda não é possível. E, por isso mesmo, há que valorizar todas as tecnologias que permitam baixar os consumos e a poluição. Razões de sobra para aguardarmos com expetativa o aparecimento do Qashqai e-Power.
O Qashqai agora lançado convenceu-nos bem mais na outra componente que nos interessa, a tecnologia. Mesmo na versão mais acessível, Acenta (€32.000 sem considerar promoções), o pacote tecnológico já é muito apreciável, incluindo câmara de marcha atrás, suporte para Android Auto e Apple CarPlay, faróis full LED e, mais invulgar, cruise control adaptativo. O N-Connecta (+€2500) adiciona os muitos serviços conectados, a câmara de visão 360 e o painel de instrumentos digital. No Tekna (+€4050 relativamente ao N-Connecta) destaque para o ProPilot, um dos mais eficientes sistemas de apoio à condução, que permite condução semiautónoma em muitas estradas.
Parece-nos que a Nissan sobe aprimorar a fórmula de sucesso do Qashqai de modo a garantir que este modelo continuará a ser um sucesso entre os portugueses. Mas muito mais para os privados, porque, para empresas, a falta de benefícios fiscais deverá ser penalizadora.