Foi com uma confissão que Rich Dilon, fundador da empresa Ivy Farm, se dirigiu à audiência no Web Summit. “Já tentei deixar de consumir carne várias vezes. Mas falhei sempre. Não consigo passar sem comer bacon”, admitiu. É para aliviar este sentimento de culpa, comum a todos quantos tentam tornar-se vegan, sem sucesso, que a biotecnológica inglesa, fundada por cientistas associados à Universidade de Oxford, trabalha. “O nosso alvo são todas as pessoas que gostam de carne, mas estão a tentar reduzir o seu consumo”, admitiu, após uma breve sondagem à plateia que revelou uma grande preponderância deste perfil de consumo.
Nas recém-inauguradas instalações da empresa – uma vasta área de cinco mil metros quadrados – cultiva-se carne – é mesmo este o verbo – a partir de células animais. O processo não é muito diferente do cultivo de plantas: recolhem-se algumas células animais, mergulham-se em biorreatores, alimenta-se com nutrientes e espera-se que cresça.
Dependendo dos compostos adicionados ao reator, a empresa é capaz de gerar músculo ou gordura, no caso do análogo à carne de porco – a principal aposta nesta fase. Mas com a mesma tecnologia será possível produzir uma grande variedade de proteína animal. Falta resolver a parte financeira. “A indústria bio-farmacêutica foi a única, até agora, que conseguiu produzir células em larga escala. Só que não têm a preocupação de custo”, nota o empreendedor, admitindo que mesmo assim é possível ir buscar inspiração aos processos de fabrico das terapias celulares. Além disso, a própria indústria alimentar também já oferece razões para o otimismo. “Em 2013, o primeiro hambúrguer de laboratório custou cerca de 300 mil dólares. Hoje conseguimos fazê-lo por cerca dólares.”
Mandam as regras das apresentações ao público que se comece por uma história pessoal. Jean Madden CMO da NextGen, que produz galinha a partir de plantas, tem, obviamente, a lição me estudada. “Quando fui mãe, há dois anos, comecei a pesquisar muito sobre alimentação. Li sobre frango orgânico, salmão selvagem, para dar à minha filha, e a dada altura dei-me conta que estava a servir-lhe o seu futuro num prato”, atirou.
No último ano e meio, a empresa com sede em Singapura conseguiu produzir galinha com sabor a galinha, integralmente à base de plantas. “O grande desafio foi conseguir a versatilidade que se espera deste tipo de carne. Tem de ficar bem nas asas de galinha, mas também no frango Teriaki, sublinhou Madden.” Uma variabilidade tanto ao nível do sabor como da textura, assegurada pelo produto da marca, garante. “Há uma relação evidente entre a produção alimentar e as alterações climáticas, não há forma de o negar.”