Em 1911 foi uma revelação. O balão subiu quatro a cinco quilómetros e à medida que subia os instrumentos a bordo registavam um valor cada vez mais elevado de radiação. A experiência e a descoberta da radiação cósmica valeram ao cientista Victor Francis Hess o Prémio Nobel da Física em 1936. “Foi uma grande descoberta, permitiu concluir que há uma fonte muito importante de radiação natural que não tem origem na terra, mas no espaço exterior. Ele percebeu que há uma chuva de partículas invisíveis que se propagam no universo e estão constantemente a cair na terra”, observa Raul Sarmento, investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP) na Universidade do Minho que ajudou alunos do ensino secundário a montar uma experiência semelhante.
Alunos do 12º ano da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado (ESPBS), em Joane, Famalicão, têm vindo a trabalhar com a Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), através do polo LIP-Minho para hoje, Dia da Criança, lançarem um balão estratosférico, preparado para fazer medições de radiação em altitude. “Queremos reproduzir a experiência histórica do Victor Francis Hess, que num voo de balão – esse tripulado, ao contrário do nosso – descobriu os raios cósmicos e inaugurou uma linha de investigação que se estende até aos nossos dias”, diz Nuno Castro, também do LIP-Minho e da ECUM.
O voo irá demorar cerca de seis horas, uma a subir até quase aos 40 km e quatro ou cinco horas a descer. Além de um contador de Geiger, para medir a radiação, o balão também leva a bordo sensores de temperatura, pressão atmosférica e um módulo que recebe sinal de satélites de GPS. Tudo dados que serão recebidos em tempo real e analisados em terra pelos alunos, que participaram com “entusiasmo”. “O ensino em geral, e o ensino de ciência, em particular, precisa de fornecer aos estudantes as ferramentas de que necessitam para planear, executar e interpretar experiências científicas. Isto é sempre verdade, mas mais ainda numa sociedade em que a tecnologia desempenha um papel central”, sublinha Nuno Castro.
Passaram mais de cem anos entre a experiência de Hess e a realizada pelos alunos de Famalicão o que, naturalmente, se reflete no equipamento à disposição, que acabam por ser mais baratos e sofisticados.
A colaboração aconteceu em duas etapas. Na primeira fase, tratou-se de adquirir o balão e planear a sua rota, o que esteve a cargo do Instituto Superior Técnico. Na segunda etapa, e já sob orientação do LIP-Minho, tratou-se do recheio.
Para já, o projeto vai continuar com a ESPBS, lê-se em comunicado de imprensa. “Estamos com boas expetativas e vamos ver se poderemos alargar a outras escolas”, refere Raul Sarmento. No próximo ano letivo, pretende-se que sejam os alunos a realizar todo o processo, uma vez que, nesta primeira experiência, já ficaram responsáveis pelo lançamento do balão e pelo acompanhamento, análise dos dados e discussão dos resultados. “Os estudantes conseguem programar, montar, fazer medidas de temperatura e programar leds com base numa eletrónica de baixo custo. É um projeto muito rico do ponto de vista pedagógico, concretizando-se todos os passos de uma experiência científica”, complementa Raul Sarmento.
Todo o projeto ficará documentado para que, no futuro, os interessados possam reproduzir a experiência e construir os seus dispositivos autonomamente. Dar a cana e ensinar a pescar.