Aos 67 anos, Patrick Brown acumula dois percursos de sucesso: o de cientista numa respeitável universidade e o de fundador de uma start-up de sucesso, financiada por figuras como Bill Gates e Serena Williams. “Eu era um professor e investigador e estava feliz com a minha carreira. Mas senti que precisava de contribuir mais para o combate às alterações climáticas”, conta, na sala de imprensa da Web Summit. A resposta a este anseio chegou na forma de um hamburguer feito de plantas, mas a saber a carne – o primeiro produto da empresa de produção de alternativas à carne, Impossible Foods. “Eliminar o uso de animais na cadeia alimentar humana é a medida com mais impacto que podemos adotar”, insiste.
Desde a sua fundação, em 2011, a empresa já arrecadou mais de 1,5 mil milhões de dólares, sendo o seu primeiro produto o Impossible Burger, feito com heme, uma proteína de soja que sabe a carne de vaca, que começou por ser vendido na cadeia Burger King. Cinco anos depois, o portfolio da empresa inclui a salsicha e os nuggets de ‘frango’, tudo à base de plantas. “Os nossos nuggets de frango sabem ainda mais a galinha que a galinha. É que as galinhas não se esforçam para terem sabor a galinha. Nós sim.”
Ao longo dos vinte minutos que dura a conferência de imprensa, Brown não ser cansa de atirar números e dados que transformam a ideia de comer carne ou peixe em algo ultrapassado e bárbaro. “O uso de animais para alimentação é responsável pelo colapso da biodiversidade, basta olhar para o que aconteceu aos peixes nos últimos 50 anos.”
Hoje em dia, mais de 40 mil restaurantes em todo o mundo servem produtos da Impossible Foods, que tem vivido uma expansão notável, chegando mesmo a mercados de grandes apreciadores de carne como é o caso da Austrália e da Nova Zelândia – um anúncio que Brown guardou para fazer em Lisboa.
Além da contribuição para a emissão de gases com efeito de estufa associada à carne – 14,5% nas contas da FAO – o impacto da produção de gado também se contabiliza em terrenos que poderiam ser utilizados para captar carbono, através do “método mais eficaz de captura, que é a fotossíntese”, e que não o são. Eliminando a carne da alimentação, teríamos, dentro de 22 anos, “emissões negativas”, garante. E produzir plantas para alimentar toda a população da Terra, não é um problema? A resposta sai na ponta da língua: “não, porque a conversão é de um para um, quando eliminamos o intermediário.”
Com a certeza que mantém ao longo de toda a conversa, muito ao estilo Web Summit, o cientista tornado empreendedor garante que dentro de 15 anos só vai dar plantas no prato de cada um de nós. E de Lisboa seguirá para Glasgow. Pregar para outra freguesia.