Mesmo numa reunião em que estão presentes os maiores peritos mundiais, o SARS-Cov-2 ainda causa dúvidas e inquietações. Uma delas, crucial, é relativa à duração da imunidade: quanto tempo estamos protegidos de uma reinfeção, quer após a dita infeção natural, que após a vacina. Ainda que a resposta não seja definitiva e o intervalo temporal continue por determinar, os cientistas estão certos de que será preciso repetir a vacinação contra o vírus. “Não sabemos o período em que persiste a imunidade e é isto que vai determinar o intervalo entre cada vacinação. Mas seguramente vamos ter de continuar a vacinar-nos regularmente”, resume o diretor do Instituto de Biologia e Medicina Molecular, da Universidade do Porto, Cláudio Sunkel, à margem da reunião científica internacional organizada pela Universidade de Coimbra, em colaboração com o Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia. O encontro científico reuniu, em formato digital, os maiores peritos a nível mundial – incluindo a cientista co-responsável pelo desenvolvimento da vacina de RNA da Pfizer, Ozlem Tureci – em doenças infeciosas emergentes e desafios ambientais. Como seria de esperar, praticamente só se falou de Covid, conta Cláudio Sunkel. “É claramente um vírus com que vamos ter de conviver no futuro, pelo que será importante manter a vacinação para evitar ressurgimentos”, sublinha.
Para que as vacinas se mantenham eficazes, será essencial manter uma vigilância apertada às variantes que forem surgindo, mediante testes genéticos quer permitam detetar as mutações. “Tem de haver uma monitorização contínua porque diferentes variantes podem ter comportamentos diferentes”, diz o cientista, recordando o impacto da variante inglesa, da brasileira e mais recentemente da indiana, responsáveis por um crescimento dramático do número de infetados. “O vírus não varia tão pouco como se pensava”, observa. Mas também não muda tanto como acontece com o Influenza. Uma variabilidade que, além das implicações no aumento dos números, pode obrigar a ajustar a formulação da vacina, de forma a garantir a eficácia desejada.
Durante a conferência, e com dados de várias regiões do globo, tornou-se claro que os países com sistemas de saúde públicos e bem organizados determinaram a eficácia de combate à pandemia, mais do que a riqueza do país. E como exemplo disso, temos os Estados Unidos da América, que demoraram muito tempo a reagir a este vírus que tem como principal arma a sua enorme capacidade de entrar na célula, sobretudo nos epitélios do sistema respiratório, bloqueando os mecanismos de defesa.
No entanto, como já sabemos a esta altura da pandemia, a capacidade de resposta é muito individual e depende essencialmente de dois fatores: o genético e a tendência para desenvolver uma resposta imunitária direcionada contra o próprio organismo. “Algumas pessoas têm alterações genéticas que afetam a sua capacidade de reagir ao vírus, outras podem desenvolver auto-imunidade.” O que pode condicionar quer a gravidade, quer a persistência dos sintomas.
Em Israel, que já deu um passo à frente no controle da epidemia, com a quase totalidade da população adulta vacinada, já se equaciona a vacinação de jovens, abaixo dos 16 anos.
Apesar destes resultados animadores, Cláudio Sunkel alerta para o risco de desconfinar demasiado cedo ou demasiado depressa, como aconteceu com o seu país Natal, o Chile. Após uma campanha de vacinação muito bem sucedida, houve um relaxamento das medidas com um súbito aumento do número de infetados e consequente confinamento.