“Vida de astronauta é uma vida de rato de laboratório”, observa Pedro Caetano. “Tudo controlado e em permanente observação”. O médico, com formação em Medicina Aeroespacial sabe do que fala. Em 2014 passou três meses no Johnson Space Center, a casa dos astronautas da NASA, a frequentar um curso de Medicina Aeroespacial, que de tempos a tempos a agência americana abre a estrangeiros. Depois de uma fase de seleção rigorosa, com direito a psicotécnicos e entrevista, Pedro Caetano acabou por ser um dos dois europeus a entrar para o restrito grupo de 15 (a outra foi também, curiosamente, uma médica portuguesa).
Lá experienciou “um mundo à parte.” No centro espacial que foi a base das míticas missões Apolo – Houston, we’ve got a problem! – e onde está o centro de controle da participação americana na Estação Espacial Internacional (ISS), Pedro Caetano, atualmente responsável pela Unidade de Medicina Aeronáutica do Instituto CUF Porto, assistiu à “medicina do futuro”, como é o caso das próteses que só hoje começam a entrar na prática clínica comum. Ou os termómetros de infra-vermelhos, tornados famosos pela pandemia. Também experimentou a câmara hiperbárica e uma hipobárica, treinou como um astronauta e experimentou algumas das sensações vivenciadas por quem se escapa à gravidade terrestre. Mesmo depois de ter sentido na pele parte das dificuldades e da exigência da vida de um astronauta, Pedro Caetano mantém aos 33 anos o fascínio pela exploração e pela astronomia que o atingiu em criança. E se não for lá acima como astronauta – ainda está a refletir se irá arriscar o processo de recrutamento que a Agência Espacial Europeia anunciou recentemente – é bem possível que chegue lá como turista.

Foi ainda durante o curso na NASA que o médico começou a magicar a criação de centro médico aeroespacial em Portugal e num dos trabalhos acabou por apresentar um projeto de análise aos voos orbitais e sub-orbitais para futuros turistas espaciais, respondendo à questão: como levar uma pessoa ao espaço? “Na Medicina Espacial pensamos a medicina ao contrário, preocupamo-nos na forma como podemos levar uma pessoa em excelente forma para um ambiente extremo”, exemplifica o especialista em Medicina Geral e Familiar.
Para os astronautas, os requisitos estão bem definidos – “são analisados da ponta do cabelo à ponta do pé” – e depois de uma prova de seleção muito rigorosa, ainda passam por meses de preparação. Algumas das missões podem durar seis meses e é preciso reduzir ao mínimo o risco de aparecer algum problema de saúde entretanto. Além da ‘vistoria’ completa, aos astronautas americanos chega-se mesmo a fazer cirurgias preventivas, de remoção de pequenos nódulos, que na Terra seriam considerados inofensivos mas que sob a possibilidade de virem a dar problemas lá em cima são eliminados, por exemplo. Ou o apêndice, caso este pareça distendido ou inflamado. “Ir buscar um astronauta à ISS custa 50 milhões de euros!”
Para um turista espacial é claro que não poderá haver o mesmo rigor. “Os níveis ainda não estão definidos. Temos de estabelecer os mínimos necessários para que se possa dispensar tanto tempo de preparação”, observa.
Depois do curso em Houston e de uma formação na mesma área, em Colónia, Alemanha, no centro de astronautas da ESA, a ideia de criar um Centro Médico Aeroespacial em Portugal foi ganhando forma. “Os Açores têm uma localização privilegiada, entre dois continentes, tanto podem vir os candidatos a turistas europeus como os americanos.”