Os antigos egípcios foram, durante milénios, uma das mais avançadas civilizações de que há memória. Além dos megalómanos projetos de construção civil (refiro-me às pirâmides, não a aeroportos ou TGV), inventaram o papel e tinta, os cosméticos, a pasta e escova de dentes e o arado. Apesar de tudo isto, tardaram dois mil anos a usar a roda nos transportes, ainda que à sua volta já todos o fizessem. Esta demora conduziu a que fossem inclusivamente derrotados pelos hicsos, que, embora menos desenvolvidos, usavam carruagens com rodas na sua estratégia de guerra. Contudo, os egípcios não foram os únicos. Os maias só usavam a roda para brinquedos de crianças e nada mais.
Porque é que povos tão avançados não encontraram utilidade numa máquina simples como a roda? No Egipto existiam elementos que tornavam a aplicação da roda menos interessante. Por um lado, os canais do rio Nilo serviam como principal via de transporte e, por outro, a lama e a areia dificultavam a circulação por estrada. Ainda assim, teria sido útil para os egípcios usarem a roda mais cedo: depois de começarem a usufruir dela, nunca mais pararam. Já no caso dos maias, desincentivou-os o terreno acidentado, a selva e a falta de animais de tração domesticados, sendo que os espanhóis garantiram o desaparecimento desta civilização antes que pudesse experimentar a roda em larga escala.
A primeira razão para, perante um obstáculo, resistirmos a adotar uma solução melhor é o chamado ponto-cego. O ponto-cego é aquilo que não vemos agora, mas que a posteriori parece evidente. Já alguma vez fez a pergunta “como é que não me lembrei disto antes”?
Os pontos-cegos podem ser perigosos para as empresas, tal como para a condução de um automóvel. Recordemos como a Kodak ignorou o potencial da fotografia digital (que ela própria concebeu), como a Nokia desvalorizou o iPhone, ou como a Blockbuster não fez caso da Netflix.
A segunda motivação que nos faz defender do novo é a ideia de “não foi inventado aqui, logo não serve”. Este preconceito, provavelmente inato, faz-nos sobrevalorizar as nossas próprias criações e desvalorizar as soluções externas.
Se há algo que posso afirmar com segurança é que, neste momento, existe pelo menos uma inovação, ou várias, que a sua empresa não está a adotar (e a minha também) e que, daqui a alguns anos, será evidente que deveríamos ter adotado. Poderá estar limitado pelo ponto-cego, ou agarrado à solução de origem. A boa notícia é que estar consciente destas barreiras ajuda a identificar oportunidades, como baixar custos ou ganhar eficiência. Por isso, ter em mente a pergunta “que oportunidades existem hoje que eu posso não estar a valorizar?” é um bom começo.
Outra estratégia fundamental é a exposição ao novo. Temos de estar libertos para aprender. Se nos rodearmos sempre de pessoas parecidas connosco, será difícil atrair outras perspetivas (já agora, se não encontra uma solução que funcione, fale com uma criança e ficará surpreendido).
Hoje, o mundo é imensamente mais rápido do que há três ou quatro mil anos e tanto as ameaças como as oportunidades abundam. Os egípcios conseguiram viver dois mil anos sem rodas. Quantos anos pode sobreviver o seu negócio?