Hoje, assinala-se o Dia Mundial da Poupança, e no contexto pandémico como o que vivemos, a poupança volta a representar uma forma de salvação para muitas famílias portuguesas face à crise que poderá estar para vir em 2021. Muitos de nós, ainda temos presente uma sensação estranha de déjà-vu, relativa à última recessão económica, que se tem vindo a adensar com o aproximar de uma segunda vaga muito severa.
É certo que poupar significa amealhar uma parcela da riqueza adquirida e conter os gastos, o que em certa parte, o confinamento acabou por ser responsável pelo crescimento dos valores de poupança em Portugal, que segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), este ano, registou a taxa mais alta dos últimos sete, representando 10,6% do rendimento disponível. Embora seja um valor muito razoável, fica aquém dos valores registados pela média Europeia, em períodos económicos estáveis, que rondam os 12% do PIB, segundo dados do Eurostat.
Ora, se por um lado, os números apontam para um sucesso antecipado do desígnio nacional de reduzir a despesa e aumentar a riqueza, face ao que estará para vir, por outro, é certo e sabido que o mérito do resultado alcançado não é fruto da repentina alteração comportamental dos consumidores, mas sim das circunstâncias em que o consumo foi possível. Bastará para isso, consultar o exponencial aumento das compras através do comércio eletrónico.
Podemos, assim, retirar daqui três conclusões.
A primeira, que os consumidores portugueses ainda têm muita falta de literacia financeira na hora de optarem pela melhor forma de poupança. Estarão realmente, as famílias capacitadas para uma escolha consciente, acerca da finalidade das suas poupanças? Em que devemos investir as nossas poupanças? Obrigações, fundos de investimento, ações, PPR, depósitos a prazo, certificados de aforro ou do tesouro, são apenas alguns dos produtos para os vários perfis de poupança. No entanto, quantos de nós os considera como uma opção refletida e com conhecimento suficiente para uma tomada de decisão consciente? É por esta razão, que o risco de guardar o dinheiro em casa ainda constitui uma opção muito válida para a grande maioria.
Desta resulta a segunda conclusão que traduz o paradoxo da poupança – proposto, pela primeira vez, por John Maynard Keynes -, segundo o qual, se todos os que possuem rendimentos decidirem poupar, isso conduz a menos procura pelos bens das empresas, que resulta em menos produção, menos riqueza e, paradoxalmente, acabamos com menos poupanças, porque temos menos dinheiro para poupar à partida. Um país, por mais que incentive à poupança, se não o souber aplicar em investimento produtivo, não será capaz de traduzir utilidade à poupança que foi acumulando.
Por fim, a terceira conclusão leva-nos ao pressuposto de que a poupança é, ao mesmo tempo, a nossa capacidade de investimento no futuro, ou seja, colocar novamente o dinheiro no ponto de origem. Contudo, para atingir este propósito é necessário um maior empenho das autoridades na promoção da poupança — até porque o atual programa de Governo não contempla propostas para a promoção da poupança e disciplina dos gastos dos consumidores. Recentemente, a resposta do Governo à crise pandémica, foi criar um regime especial para o resgate de Planos de Poupança Reforma sem penalizações, colocando em causa as poupanças para a reforma futura. Sem poupança, não há investimento no futuro, e sem investimento não há crescimento económico.