A situação pandémica na Europa tem melhorado nos últimos meses, devido aos avanços nos planos de vacinação. Isso permitiu reabrir a economia e levou a um forte crescimento no segundo trimestre do ano. No entanto, numa fase em que o PIB europeu tenta recuperar o terreno perdido durante a crise da Covid-19, começaram a surgir alguns fatores a refrear o ritmo de crescimento que se observava nos últimos meses.
Os indicadores avançados mais recentes, que permitem um retrato mais imediato da situação económica, revelaram dados piores que os previstos. O índice PMI – construído a partir de inquéritos a gestores de empresas em que se mede a perceção sobre a saúde da economia – desacelerou para 56,1 pontos em setembro, o valor mais baixo dos últimos cinco meses e que ficou aquém dos 58,5 pontos esperados pelos analistas. Apesar de uma leitura acima de 50 pontos sugerir que a economia está a crescer, os dados deixam algumas más notícias sobre o ritmo da recuperação.
A tirar força à retoma económica estiveram sobretudo a falta de material e de peças para que as fábricas pudessem produzir e os custos elevados da energia. Em Portugal, por exemplo, a Autoeuropa tem interrompido a produção em alguns dias devido à falta de semicondutores. Esse cenário de escassez de peças e de materiais para produzir repete-se um pouco por toda a Europa.
“As empresas têm ficado mais frustradas com os atrasos, escassez e preços cada vez mais altos nos seus fornecimentos”, observa Chris Williamson, economista da IHS Markit, a consultora que calcula os índices PMI. No relatório sobre os últimos dados, o especialista nota que aqueles fatores se têm traduzido em constrangimentos para as empresas, que perdem vendas e clientes. E realça que a tendência, que já era visível no setor industrial, começa a observar-se também nos serviços. Já o índice Ifo de clima de negócios na Alemanha mostrou que os problemas de fornecimento pioraram neste mês de setembro.
Além dos obstáculos nas cadeias de abastecimento, causados novos confinamentos no mercado asiático para responder a surtos de Covid-19, as empresas estão ainda a deparar-se com a subida rápida dos preços da energia. A cotação do gás natural teve altas significativas nos últimos meses, o que se refletiu em preços elevados da eletricidade por toda a Europa. “Isso exacerbou as pressões para as empresas”, nota Jessica Hinds, economista da Capital Economics, numa nota a que a EXAME teve acesso.
Risco de desaceleração
Apesar das limitações nas cadeias de valor, a economia da Zona Euro viveu um segundo trimestre animador. O PIB cresceu 2% nesse período face aos primeiros três meses do ano. Já em relação ao mesmo período do ano anterior, quando se viveram os confinamentos mais duros na Europa, a recuperação foi de 13,6%. Para o total de 2021, a Comissão Europeia estima que a economia possa recuperar 4,8%, depois da quebra de 6,5% no ano passado.
Mesmo com a desaceleração mostrada nos últimos indicadores avançados, não aparenta estar em causa a continuidade do crescimento. Mas os economistas vão avisando que, no final do ano, a recuperação poderá perder algum gás. “Estamos ainda a prever um crescimento do PIB de 2% no terceiro trimestre. Mas o quarto trimestre pode ser um pouco mais fraco, já que os preços mais altos da energia e a continuação dos problemas de fornecimento começarão a pesar”, afirma Peter Vanden Houte, economista do ING, num relatório.
Os economistas esperam, no entanto, que estes problemas nas cadeias de valor e os preços altos do gás natural sejam temporários. “Acreditamos que a maior abrangência da vacinação na Ásia irá levar a uma redução nos atrasos de transportes, o que deverá normalizar as cadeias de abastecimento”, refere Peter Vanden Houte. Já para os custos da energia, o mercado prevê que os preços do gás natural possam começar a baixar nos primeiros meses de 2022.