Este novo ano deverá ser o da reconstrução, com a economia global a tentar reerguer-se do abalo provocado pela pandemia. Os economistas contam que a vacina seja uma aliada de peso para ajudar o mundo a desconfinar e regressar ao normal. Após um 2020 marcado pela forte contração económica, este novo ano poderá ser o da fénix renascida, “com uma forte recuperação do PIB global e dos resultados empresariais devido à evolução da vacinação e ao substancial apoio das políticas” públicas, defendem os especialistas da Pictet Wealth Management, num relatório.
Os especialistas desta gestora de ativos traçaram os principais temas que poderão marcar o ano na economia. E elegeram algumas tendências que deverão ditar o rumo dos investimentos e da evolução dos mercados financeiros mundiais:
Como se vai pagar a conta?
A crise económica global levou a que os estados, um pouco por todo o mundo, tivessem de abrir os cordões à bolsa. A despesa aumentou ao mesmo tempo que as receitas tiveram quebras significativas e isso provocou um aumento da dívida. “O endividamento (das famílias, estados e empresas) aumentou em todo o lado – mas a ritmos diferentes”, observam os especialistas da Pictet Wealth Management. Apostam numa diferenciação por parte dos investidores entre os países com maior e menor capacidade para pagar as despesas assumidas para responder à pandemia. “A escolha dos países será essencial” para o sucesso dos investimentos, defendem.
Plano Marshall verde
A cor dos investimentos deverá ser cada vez mais verde. “As empresas mais expostas ao ciclo económico e às infra-estruturas, particularmente aquelas que cumpram com os critérios ambientais, estão bem posicionadas para ganhar um ímpeto extra em 2021”, consideram os especialistas. Recordam que “os maciços planos orçamentais apresentados pela Alemanha e pela Europa indicam que estamos a ir na direção de uma versão moderna e ‘verde’ do Plano Marshall, que ajudou a Europa a recuperar após a II Guerra Mundial”.
Também nos EUA, a expectativa é que a nova administração Biden concentre esforços na transição energética, sustentabilidade e energia verde. Além disso, realçam os responsáveis da gestora, “a pandemia aumentou a pressão para que as empresas que receberam ajuda estatal cortem nas emissões de CO2”. Em resumo: “A megatendência em direção a uma economia global mais verde e sustentável é mais forte que nunca”.
A vingança dos perdedores
A pandemia levou a uma subida da poupança em muitos países, apesar da quebra generalizada de rendimentos. Por um lado, as opções de consumo foram limitadas pelos confinamentos e pelas medidas restritivas. Por outro, a incerteza face ao futuro levou também a uma abordagem mais cautelosa de famílias e empresas. Este ano, os economistas contam com a libertação de parte dessas poupanças forçadas para ajudar a acelerar a retoma económica. “Isso irá beneficiar os setores relacionados com o consumo que sofreram especialmente durante a pandemia”, acreditam os especialistas da Pictet. Assim, as empresas de maior qualidade das áreas de atividade mais penalizadas pela Covid-19 poderão estar entre as vencedoras de 2021.
Mais fusões e aquisições
Este poderá ser o ano do regresso em força das grandes operações de compras de empresas. “O custo de financiamento extremamente baixo e a melhoria das perspetivas económicas são grandes incentivos para as fusões e aquisições”, observam os especialistas da Pictet. Detalham que “com as empresas e setores a responderam a uma mudança rápida no panorama empresarial e económico, a atividade dos negócios tanto pode ser ofensiva (compras por parte de empresas para expandir as suas operações ou ganhar novas competências e recursos para construir quota de mercado em setores em crescimento) como defensivas (fusões em setores maduros, caso da banca europeia)”.
O regresso dos Emergentes
Este ano poderá acentuar a diferença de velocidade no crescimento dos emergentes face ao mundo desenvolvido. “Os mercados emergentes estão em posição de beneficiar com as menores tensões comerciais, o enfraquecimento do dólar dos EUA, a subida nos preços das matérias-primas e iniciativas como o acordo de Parceria Económica Abrangente Regional na Ásia”, defendem os especialistas da Pictet Wealth Management. A previsão é que as bolsas dessas regiões e alguns títulos de dívida de emergentes possam bater a concorrência.
Obrigações soberanas fora das escolhas
Os títulos de dívida pública são, tradicionalmente, os portos de abrigo dos portfolios dos grandes investidores. Mas estes ativos negoceiam com juros negativos. Portugal, por exemplo, já tem a dívida até ao prazo de dez anos com taxas abaixo de 0% e esse cenário domina uma parte significativa das obrigações soberanas no mercado. Este fenómeno foi possibilitado pela atuação dos bancos centrais, com as compras maciças de dívida pública e as políticas de juros 0% e/ou negativos. Os economistas preveem que as autoridades monetárias irão impedir uma subida expressiva dos juros para evitar uma subida dos custos com o serviço de dívida, que poderiam fazer descarrilar a recuperação.
Ainda assim, sublinham os especialistas da Pictet Wealth Management, “as taxas das obrigações soberanas irão subir à medida que a recuperação for tomando forma e que as expectativas de inflação aumentem”. Assim, “a perspetiva de rendibilidades negativas para as obrigações soberanas de países desenvolvidos coloca em questão o seu tradicional papel de porto seguro” para os investidores.
A queda do dólar e a ascensão do renminbi
As estimativas que apontam para uma recuperação muito mais rápida da China em relação aos EUA poderão refletir-se no desempenho das divisas das duas potências. “Esperamos que o dólar dos EUA desvalorize – quer pela redução das compras à procura de refúgio como pelo desaparecimento da vantagem das taxas de rentabilidade e de crescimento de que beneficiou anteriormente”, preveem.
Já as moedas dos mercados emergentes, especialmente a divisa chinesa, deverão “ser apoiadas pelo crescimento e pelas dinâmicas das taxas de juro, assim como pela forte balança de conta corrente da China”, indicam os especialistas da gestora. Entre as formas de tirar partido de eventuais valorizações do renminbi estará a aposta em obrigações de emitentes desse país, tendência que tem aumentado junto das maiores gestoras de ativos mundiais.
Ativos reais na mira dos investidores
Os especialistas da Pictet acreditam que ativos reais como matérias-primas, ouro e imobiliário terão um papel ainda mais importante nos portfolios dos investidores em 2021. “A recuperação da economia aumenta a procura por matérias-primas, incluindo metais e petróleo”, argumentam. Além disso, a perspetiva de que as taxas de juro permaneçam em mínimos ou perto desse patamar pode continuar a beneficiar o imobiliário. Neste ativo, o relatório da gestora nota que “a logística e os centros de dados cimentaram o seu lugar como tema de eleição”. Já o “dólar fraco, a elevada liquidez bombeada no sistema financeiro e a perspetiva de estímulos monetários deverão apoiar o ouro no médio prazo, apesar de eventuais recuos de curto prazo”.