Não há registo de uma destruição tão rápida de empregos nos EUA. Em apenas 15 dias houve quase dez milhões de pedidos iniciais de subsídios de desemprego. E só na semana passada esse número superou os 6,6 milhões. É o valor mais alto desde 1967, data de início destes dados. Os economistas dizem que estes números indiciam um possível disparo da taxa de desemprego para os valores mais altos das últimas décadas e que os piores cenários se estão a verificar para a maior economia do mundo.
“A nossa estimativa, que era aparentemente super-pessimista, de que a taxa de desemprego iria atingir um pico de 12,5%, com 14 milhões de pessoas a perderem os seus empregos, parece agora ligeiramente otimista”, considera Paul Ashworth. O economista da Capital Economics responsável pela análise dos EUA tem uma das projeções mais negativas para a economia americana, com uma estimativa de quebra anualizada de 40% do PIB no segundo trimestre. Mas, tendo em conta os dados vindos do mercado de trabalho, o especialista refere, num relatório a que a EXAME teve acesso, que devido “a este nível de devastação no mercado de trabalho, suspeitamos que as outras estimativas fiquem mais alinhadas com a nossa”.
A taxa de desemprego poderá exceder 10% já em abril, superando o pico atingido durante a crise financeira. E James Knightley, economista-chefe do ING, diz numa nota a clientes, que é concebível que suba para 15% em maio “se as medidas de contenção durarem para além de 30 de abril”. No entanto, o especialista acredita que os estímulos orçamentais que já foram aprovados pelos EUA poderão evitar que a taxa suba para 20%, um cenário que era temido pelo secretário de Estado do Tesouro americano, Steven Mnuchin, se o pacote de apoios económicos não tivesse sido aprovado.
Milhões de pessoas em lay-off na Europa
Na Europa, os governos estão, para já, a conseguir conter uma explosão no desemprego. A estratégia tem passado por medidas extraordinárias de proteção do emprego, como o lay-off simplificado. “Esta abordagem tem a sua origem na já antiga política alemã de kurzarbeit que permite às empresas que estejam a sofrer uma quebra enviar os seus trabalhadores para casa ou reduzir os seus horários com o governo a pagar uma quantia significativa do rendimento dos trabalhadores que seria perdido”, explica Jessica Hinds, economista da Capital Economics responsável pela análise da Europa.
A estratégia também está a ser seguida por Portugal. Os trabalhadores que sejam colocados neste regime recebem dois terços do seu rendimento bruto. A Segurança Social paga 70% desse valor e o empregador os outros 30%. Os dados mais recentes são de que 3.600 empresas já aderiram a estas medidas e que existem 76 mil trabalhadores abrangidos por este mecanismo extraordinário. O Governo estima que este apoio possa ser necessário para até um milhão de pessoas e custe mil milhões de euros por mês.
Nos cinco maiores países da Zona Euro estes mecanismos abrangem já 15 milhões de trabalhadores, segundo os cálculos da Capital Economics. “Se todas essas pessoas estivessem desempregadas, isso levaria a taxa de desemprego a duplicar para mais de 16%”, explica Jessica Hinds. Só em França, há mais de quatro milhões de pessoas incluídas neste tipo de lay-offs, o que compara com o máximo de 275 mil no pico da crise financeira.
Em Espanha houve cerca de 900 mil pessoas a perder o emprego na segunda metade de março. A grande maioria tinha contratos a prazo.
A economista afirma que “apesar de estas políticas significarem custos orçamentais significativos, o apoio aos rendimentos das famílias tem como objetivo permitir que a recuperação dos gastos de consumo recupere mais rápido assim que a crise do coronavírus terminar”. No entanto, mesmo com estas medidas, a taxa de desemprego na Zona Euro deverá ter uma subida significativa. Estes mecanismos não tendem a abranger trabalhadores com contratos temporários ou a prazo e há empresas que não irão sobreviver à crise provocada pela pandemia da Covid-19.
Em Espanha, por exemplo, já houve 900 mil pessoas a perder o emprego na segunda metade de março (70% das quais eram contratos a prazo) e em França há estimativas que o trabalho temporário tenha descido 75%. Além disso, quanto mais tempo durarem as medidas de contenção e de confinamento maior o esforço financeiro que os Estados terão de fazer nas contas públicas.
Recuperação não será rápida
Os efeitos da pandemia no emprego são devastadores. E, mesmo quando a Covid-19 ficar sob controle, a recuperação não será rápida. “Quando finalmente ultrapassarmos esta crise e nos dirigirmos para a ‘normalidade’, o desemprego não vai descer tão rápido como subiu. Muitas empresas não ultrapassarão a crise devido à quebra na procura e outras irão reestruturar-se e terão menos força de trabalho”, antevê James Knightley.
Na economia portuguesa, por exemplo, o Banco de Portugal estima que nem em 2022 se possa regressar à taxa de desemprego de 6,5% verificado em 2019. No pior cenário, a instituição projeta que suba este ano para 11,7% e no cenário base avisa que a taxa pode superar os 10%. Para 2022 prevê que ainda se situe entre 8% e 8,3%.