Com os juros baixos e negativos em grande parte da dívida soberana europeia, os investidores aceitam comprar dívida por prazos mais longos de forma a conseguirem algum rendimento regular. Existem países que já lançaram obrigações centenárias. No passado, já tinha havido empresas a lançarem obrigações de muito longo prazo.
> Áustria
É um caso único na Zona Euro. Em 2017, o tesouro austríaco lançou uma linha de obrigações a 100 anos, financiando-se em 3,5 mil milhões de euros numa emissão assegurada por um sindicato bancário. Em junho deste ano, aumentou o valor desse financiamento em 1,25 mil milhões com uma taxa de 1,17%. Nas duas operações, a procura foi bem superior à oferta e, no mercado secundário, a obrigação austríaca com maturidade em 2117 tem atraído muita procura.
> Irlanda e Bélgica
Estes dois países já testaram a maturidade de 100 anos, mas em colocações privadas junto de poucos investidores, possivelmente seguradoras ou fundos de pensões, que demonstraram interesse em dívida desse prazo. No caso de Dublin, foram colocados 100 milhões de euros com uma taxa de 2,35% em março de 2016. A vontade de investidores de comprar esses títulos surpreendeu o mercado, já que aconteceu poucos anos depois de a Irlanda ter passado por um resgate financeiro. Outro dos motivos a causar alguma apreensão no mercado foi o facto de se ter investido em dívida tão longa numa moeda que tem apenas 20 anos e que passou por uma crise existencial. Apesar disso, um mês depois da operação surpreendente de Dublin, foi a vez de a Bélgica fazer uma colocação privada de 50 milhões de euros com uma taxa de 2,3%.
> México
O tesouro mexicano tem sido pioneiro a tirar partido das políticas monetárias expansionistas dos bancos centrais das maiores economias do mundo para garantir financiamento até ao próximo século. Em 2010, aproveitou os mínimos da taxa de juro definida pela Reserva Federal dos EUA para emitir mil milhões de dólares em obrigações a 100 anos com uma taxa de 6,1%. Quatro anos depois, tirou partido dos juros baixos definidos pelo Banco de Inglaterra para se financiar em mais mil milhões de libras a 100 anos com um juro de 5,6%. No ano seguinte, foi a vez de o México aproveitar a sede de retorno dos investidores em dívida da moeda única para obter 1,5 mil milhões de euros a 100 anos com uma taxa de apenas 4,2%.
> Argentina
Depois de ter estado proscrita durante vários anos, a Argentina capitalizou o facto de ter um Governo mais amigo do capitalismo para voltar a ter acesso aos mercados financeiros em 2017. Chegou mesmo a impressionar depois de ter conseguido atrair investidores para uma obrigação de dívida a 100 anos denominada em dólares. Encaixou 2,75 mil milhões de dólares com uma taxa de 7,9%. Na altura, essa emissão foi vista como uma prova de reabilitação. Mas o país voltou a entrar numa crise financeira, tendo de receber mais dinheiro do FMI. Além disso, nas últimas eleições presidenciais saiu um vencedor menos amigo dos mercados. Os receios de um novo incumprimento são cada vez maiores e levaram a uma desvalorização acentuada das obrigações no mercado.
> Empresas
Se, por vezes, não se sabe se um país resiste ao próximo século, o que dizer de empresas? Ainda assim, há casos de corporações com dívida a 100 anos. Em 1993, tanto a Coca-Cola como a Walt Disney conseguiram financiamento nesse prazo. Mais recentemente, em 2014, a elétrica francesa EDF também recorreu à emissão de dívida centenária. Um ano depois, foi a vez da brasileira Petrobras. No caso das empresas, geralmente estes títulos têm cláusulas que permitem o reembolso antecipado ao fim de alguns anos. Tendem também a existir condições que devem ser cumpridas; caso contrário, os credores podem decidir o pagamento antes do prazo.