O PIB nacional acelerou ligeiramente no arranque do ano e, embora esteja a avançar a um ritmo inferior àquele que Mário Centeno estima para a totalidade do ano (1,9%), conseguiu destacar-se face às médias comunitárias. No entanto, os dados publicados pelo Eurostat mostram também que Portugal está entre os países europeus que cresce mais devagar. É o sétimo mais lento.
Esta aparente contradição explica-se pelo facto de a atividade económica portuguesa estar a crescer mais devagar do que a da maioria dos países, mas mais rápido do que a dos Estados mais ricos. Os gigantes Alemanha, França e Itália apresentam valores débeis, influenciando decisivamente os valores agregados da UE e da zona euro.
A primeira conclusão – que Portugal está acima da média – é usada pelo Ministério das Finanças para argumentar que o País está a convergir, enquanto a segunda – que estamos no fundo da tabela – é utilizada por PSD e CDS para dizer que Portugal devia estar a crescer muito mais rápido. Na realidade, depois de um final dos anos 90 em Portugal esteve entre os mais velozes, a regra tem sido crescer abaixo da média e mais devagar do que a generalidade das economias.
Desde 1999, só por uma vez o PIB nacional ficou na metade superior da tabela no ranking do crescimento (foi em 2010). Uma outra exceção ocorre em 2009 quando, apesar de ter enfrentado uma forte recessão de -3%, ela foi menos dura do que na generalidade do espaço comunitário. Em todos os outros anos, Portugal esteve sempre entre os mais lentos. E é possível que assim continue no futuro próximo, tendo em conta o dinamismo das economias de leste e a maior lentidão no centro e, em especial, nas regiões do Mediterrâneo.
Esse perfil é muito semelhante quando se faz a comparação entre Portugal e a média europeia. Nos anos 90 houve convergência, mas desde a viragem do século – que coincidiu com o nascimento da moeda única – Portugal tem crescido sempre abaixo da média da UE e da zona euro, exceto no já referido ano de 2010 (e 2009, com a tal recessão menos dura).
A convergência regressou em 2017 e 2018, assim como no primeiro trimestre de 2019. Se olharmos para os dados trimestrais, verificamos que um crescimento acima da média ocorreu em 8 dos últimos 11 trimestres. Uma série deste género não acontecia desde o final da década passada e isso é, de facto, uma novidade face ao histórico recente.
Mas o que quer isso dizer? As notícias que comparam Portugal com outros países ou com médias normalmente nada nos dizem sobre o que isso significa. Muitas vezes, não quer dizer nada. Ok, Portugal está a crescer acima da média, mas o que interessa se isso se dever à estagnação de Alemanha e Itália? E que relevância tem o facto de Portugal estar a crescer menos do que a maioria se a sua economia estiver sólida e a avançar a bom ritmo? Poderá dizer-se que significa que talvez estejamos a fazer escolhas erradas, mas faz sentido comparar a nossa economia com países fora do euro ou que tenham menos habitantes do que Lisboa, como é o caso de Malta?
O enquadramento do tema como uma competição é parte do problema. O que realmente interessa não é tanto se estamos melhor ou pior do que os outros, mas se estamos bem. Isto é, se o crescimento da economia é satisfatório. A dificuldade é que, também aqui, a resposta não é simples.
É difícil não ver num crescimento abaixo de 2% uma vitória medíocre. E mais deprimente ainda é não se esperar uma aceleração significativa no futuro. Nem mesmo o Governo, que teria todos os motivos para se mostrar otimista, espera um crescimento acima de 2,1% até 2023. É baixo, principalmente para um País que acabou de sair de uma crise duríssima.
Por outro lado, já espreitaram os últimos anos da economia portuguesa? Se o fizerem, talvez 2% não pareça assim tão mau. Entre 1996 e 2000, Portugal cresceu mais de 4% ao ano. Foram anos de convergência. Nos 15 anos seguintes, de 2001 a 2015, é como se a economia tivesse ficado parada no tempo. Avançámos a um ritmo anual de 0,2% (!), provocado por uma mistura de sucessivos anos de recessão durante a crise e fraco dinamismo mesmo em tempo de crescimento. Portugal tem conhecidos problemas estruturais de crescimento, alguns deles agravados durante a crise. Portanto, depois de uma década e meia perdida, alcançar valores de 1,9%, 2,8% e 2,1% (em 2016, 2017 e 2018) pode não nos levar a abrir garrafas de champanhe, mas talvez não deva ser tomado como garantido.