Milhares de portugueses vão passar os próximos dias a entrar e sair de lojas, numa busca frenética pela prenda ideal para oferecer a familiares e amigos. Tudo para que aquela tia que só vê uma vez por ano não leve a mal não ter prenda debaixo do pinheiro. Além de nos encher de ansiedade, a tradição de troca de prendas pode também ter um efeito nocivo para a economia. É que, embora haja mais consumo, existe imenso desperdício.
Provavelmente ninguém fez mais por esta tese do que Joel Waldfogel que, em 1993, escreveu um artigo intitulado “The Deadweight Loss of Christmas”, no qual explica que é um disparate económico insistirmos em trocar presentes. Além do stress habitual, quando oferece a alguém uma prenda de 50 euros, o mais provável é que a pessoa que a recebe fizesse uma escolha melhor para si mesma se fosse ela a decidir onde gastar esse dinheiro.
É verdade que esta perspetiva não leva em conta o lado sentimental, a alegria de ver alguém abrir uma prenda de que gosta, blá, blá, blá. Mas este texto não é sobre isso. Normalmente, os economistas notam que o Natal é um período de ‘boom’ económico, uma vez que traz uma explosão de consumo, como se prova entrando em qualquer centro comercial português em dezembro.
Mas esse consumo, segundo Waldfogel, chega com um nível de ineficiência brutal. Entre 10% a 30% do valor dos presentes é destruído devido a este modelo compulsivo de troca de prendas. É uma visão digna de Ebenezer Scrooge de “Um Conto de Natal” e adotá-la provavelmente torná-lo-ia um pária no seio da sua família. Mas também poderia erradicar a tradição anual de troca de peúgas entre familiares que apenas se veem uma vez por ano.
A VISÃO fez uma pequena entrevista por email com Joel Waldfogel, onde o economista explica melhor a sua tese.
Se tivermos em conta o desperdício, a troca de prendas acaba por penalizar a economia? Os economistas costumam concentrar-se no efeito positivo.
O consumo aumenta o produto interno bruto (PIB), que é uma referência comum de sucesso económico. Mas normalmente um consumidor só gasta 100 euros quando encontra algo que valha 100 euros para si próprio. Portanto, normalmente, 100 euros a mais no PIB provocam pelo menos 100 euros de satisfação para um eventual consumidor. Com a troca de prendas, não existe garantia que esses 100 euros gastos resultem em 100 euros de satisfação. De facto, quando o comprador sabe pouco sobre aquilo que a outra pessoa quer, é possível que os 100 euros nem tenham qualquer valor para o receptor. Felizmente, a realidade não costuma ser tão negra. Mas a minha investigação ao longo dos anos mostra que 100 euros em prendas resulta em 20% menos valor do que se estivesse a gastar esse dinheiro em si mesmo.
Sobrestimamos o valor emocional das prendas?
Não tenho nada a dizer sobre isso. Dar [prendas] parece fazer feliz quem dá e quem recebe. O desafio é este: como quem dá não sabe o que comprar, o seu consumo traz menos satisfação do que gastos equivalentes são capazes de criar.
Que alternativas propõe?
Nos EUA, os “cartões-oferta” são muito populares. Evitam o problema das prendas mal escolhidas, permitindo a quem recebe escolher aquilo que quer. Não sou contra a troca de prendas. Às vezes, há boas ideias de coisas para comprar para os nossos amigos e pessoas de quem gostamos. Mas muitos de nós acabamos em situações em que somos obrigados a comprar uma prenda, mas não temos ideia daquilo que a outra pessoa quer. Isso é a receita para um desastre microeconómico.
Não gostamos de dar dinheiro. Porquê?
O dinheiro parece ser considerado de mau gosto e é socialmente desconfortável. É aceitável para pessoas mais velhas darem dinheiro aos mais novos, especialmente avós e tios. Mas é estranho dar dinheiro entre amigos da mesma idade. E é particularmente estranho dar dinheiro ao namorado ou à namorada.
Vai oferecer prendas de Natal este ano?
Compro prendas para a minha família. São todos adultos, portanto tento saber aquilo que eles querem antes de comprar algo.