O desenvolvimento do turismo nos últimos anos foi acelerado e feito de forma acertada, mas a evolução ainda não está concluída. E agora, que a pandemia deixa o setor apreensivo e dita o adiamento dos investimentos que estavam em fases mais iniciais, é preciso dar tempo aos empresários até que a confiança dos consumidores seja restabelecida. É o que defendem Hugo Coelho, diretor do Departamento de Empresas do Sul do Novo Banco e Luís Moedas, diretor comercial Sul do Novo Banco.
Em entrevista, os responsáveis abordam o papel importante da banca no apoio ao setor turístico – não apenas no investimento para criação de nova oferta, mas também através do financiamento de tesouraria que ajuda centenas de empresas a fazer a “travessia do inverno” da época baixa. E sublinham a importância de conhecer o terreno e os protagonistas dos investimentos e de ter empresas PME Líder entre os seus clientes, um “grupo de elite” que, defendem, garante menos risco e mais qualidade.
Como é que o setor financeiro ajudou à transformação do turismo nos últimos anos, nas várias regiões, uma mudança que resultou num acumular de recordes de receitas e de prémios internacionais?
Luis Moedas (L.M.) – A última década é bem reveladora da evolução estrutural do setor do turismo num país que é fortemente dependente do mesmo:
– aparecimento com forte crescimento das pequenas unidades hoteleiras, muitas direcionadas para nichos de mercado (saúde & bem estar, desportos aquáticos, roteiros de cultura, roteiros de natureza, etc), em detrimento das grandes (e pesadas) estruturas que marcaram as últimas décadas do século passado (small is beautiful);
– nova geração de gestores hoteleiros, muitos deles formados nas melhores universidades internacionais, com vivências adquiridas em projetos de sucesso “lá fora” e com uma visão focada na qualidade e na venda de “experiências”. Tudo isto gerador de um forte impacto na satisfação dos clientes, que contrasta com as antigas gerações de hoteleiros do “saber de experiência feito”, muito focados na quantidade e não tanto na qualidade.
Este processo evolutivo, que não está concluído, aliado a novos conceitos de comunicação, tem permitido divulgar com mais destaque e notoriedade o país, no mundo.
Obviamente que os excelentes recursos naturais do país, potenciados por projetos de qualidade e alicerçados numa rede recente de infraestruturas (redes viárias, ampliação do aeroporto, redes de comunicações mais potentes) têm sido também ingredientes que contribuíram para o sucesso dos últimos anos.
Relativamente à banca, e ao Novo Banco em particular, em paralelo com a evolução do setor do turismo também a indústria da banca tem registado grandes transformações nos últimos anos.
O que é de destacar é a capacidade que a banca tem tido no perceber o posicionamento e necessidades das empresas do setor do turismo e assim continuar a apoiá-las nos momentos certos, seja numa ótica de tesouraria (época baixa) seja numa perspetiva de investimento. O Novo Banco é historicamente reconhecido pela sua proximidade às empresas, mas é importante referir que um dos motivos que tem pautado o nosso sucesso nesta área é o fato de termos equipas no terreno, profundas conhecedoras dos empresários e dos projetos. Este posicionamento de conhecer o terreno, as tendências, os projetos e as pessoas diria que tem sido fator crítico de sucesso.

A importância deste setor vai muito além das empresas que prestam diretamente serviços nas áreas do Turismo. Sempre procurámos servir os nossos clientes tendo por base esta visão integrada
Hugo Coelho
Qual é a importância e o peso efetivo deste setor para o Novo Banco? Corresponde à relevância que tem para o País, ao ser o maior exportador de serviços?
Hugo Coelho (H.C.) – O Turismo assume uma particular relevância no contexto da atividade do Novo Banco e sempre acompanhámos o desenvolvimento deste setor de uma forma proativa e ajustada àquilo que é a importância do mesmo para a Economia Portuguesa.
Não obstante a forte predominância das atividades turísticas em regiões como o Algarve ou a Madeira, onde estamos naturalmente muito presentes no apoio às empresas locais, a presença do Novo Banco neste setor está longe de se esgotar nestas zonas, sendo que a grande Lisboa, o grande Porto e outras zonas do nosso território são igualmente, pelo crescimento que tiveram no turismo, mercados aos quais dedicamos muita da nossa atenção, aproveitando uma rede nacional de Centros de Empresas perfeitamente alinhados com esta missão.
Acresce que a importância deste setor vai muito além das empresas que prestam diretamente serviços nas áreas do Turismo, considerando o efeito impulsionador que estas têm sobre muitas outras atividades económicas e sempre procurámos servir os nossos clientes tendo por base esta visão integrada, disponibilizando soluções que sirvam os múltiplos interesses de quem interage neste meio, particulares e empresas, seja na aquisição de bens ou na prestação de serviços.
Tendemos a pensar neste setor como um bloco, mas a diversidade de realidades deve obrigar também a satisfazer necessidades muito diferentes. Normalmente, o que é que estas várias empresas mais procuram?
L.M. – A procura é variada e está sempre relacionada com as necessidades a satisfazer.
O tecido empresarial de algumas regiões, como por exemplo o Algarve, carateriza-se essencialmente por micro e pequenas empresas, muitas delas de cariz familiar e fortemente dependentes (direta ou indiretamente) da indústria do turismo.
Por outro lado realçar que apesar de sentirmos cada vez menos, continua ainda a ser caracterizada pelo chamado efeito sazonalidade em que o período do inverno (época baixa) obriga muitas das empresas do setor a procurar apoios de tesouraria que lhes assegure a “travessia do inverno”, e temos no Banco produtos que otimizam a gestão da tesouraria das empresas, na relação com fornecedores, como é o caso NB Express Bill.

A época baixa obriga muitas das empresas do setor a procurar apoios de tesouraria que lhes assegure a “travessia do inverno”
Luís Moedas
Este está a ser um dos setores mais severamente afetados pela pandemia. De que forma é que isso se nota nas atuais necessidades das empresas e como é que tem afetado os seus ritmos de investimento e desenvolvimento?
H.C. – Os primeiros impactos desta pandemia sobre o setor são reconhecidamente significativos, à medida que vamos conhecendo os dados do segundo e terceiro trimestres de 2020. É verdade que a generalidade das empresas está de alguma forma apreensiva e que esta crise irá provocar o adiamento no desenvolvimento de alguns novos projetos que estavam pensados a curto e médio prazo, até que os níveis de confiança de clientes e operadores sejam de alguma forma repostos. Outros projetos há que, estando já em fase avançada de desenvolvimento e com fontes de financiamento asseguradas, seguem o seu curso normal na convicção de que aquilo que são os fatores diferenciadores do País enquanto destino turístico de excelência não se alteraram e que a médio prazo terão o seu enquadramento num contexto económico melhorado.
Além do tema do investimento constatamos igualmente o aumento das necessidades de tesouraria das empresas decorrente da paragem das suas atividades ao longo dos meses mais críticos da pandemia. Aqui foram dadas um conjunto importante de respostas por parte do Estado, dos Bancos e das Sociedades de Garantias Mútua, materializados na disponibilização à economia de apoios financeiros superiores a € 7 mil milhões, para além das moratórias de capital e juros, proporcionando às empresas tempo e folga financeira para tentarem recuperar deste contexto adverso.
Os novos projetos (investimento) sempre que possível procuram recorrer a fundos comunitários, mas, complementarmente, continuam a ter na banca o suporte que muitas vezes lhes falta para a viabilização dos mesmos, designadamente na comercialização das linhas protocoladas com o Turismo de Portugal, a par com as Sociedades de Garantia Mútua.
A classificação enquanto PME Líder permitiu, na atual situação, vantagens competitivas dessas PME em relação ao resto das empresas do setor? De que forma?
L.M. – A classificação PME Líder é sempre um fator distintivo para as empresas premiadas e que lhes permite aceder a condições mais competitivas junto dos seus parceiros financeiros, assim como poder divulgar perante clientes e parceiros que fazem parte de um “grupo de elite” no sistema empresarial português.
Para a banca o estatuto PME Líder permite categorizar de uma forma diferente estes clientes, seja pelo fator risco (menor), seja pelo fator qualidade, seja pelo percurso de sucesso que a maioria destas empresas tem vindo a trilhar.
Que mudanças é que o setor terá de operar para se adaptar ao novo ciclo económico que se perspetiva em consequência da Covid-19? E que contributo é que o setor financeiro dará (ou está já a dar) para aquilo que será este setor no pós-pandemia?
H.C. – Os fatores que nos têm diferenciado positivamente face a outros mercados e que nos têm posicionado como destino turístico preferencial de muitos cidadãos estrangeiros e nacionais, como sejam o clima, a natureza, a hospitalidade, a segurança ou a gastronomia, não se alteraram e o turismo continuará a ser preponderante no desenvolvimento futuro da economia portuguesa. Como em qualquer crise, há alterações comportamentais e de padrões de consumo dos clientes que exigem adaptação por parte das empresas, como é o caso atualmente da adoção de regras de higiene ainda mais diferenciadas que beneficiem a perceção de segurança dos clientes na hora de visitar o País.
É absolutamente necessário que as empresas do setor tenham tempo até que a confiança seja restabelecida a um ponto que os fatores atrás mencionados possam novamente alimentar a tão desejada recuperação da sua atividade.
Para além das medidas que são conhecidas entre as quais os apoios diretos desenhados especificamente para o setor conjuntamente com Estado e SGM, compete à Banca saber perceber a conjuntura e ajudar os empresários a ultrapassar as adversidades, estando próxima dos clientes e conhecedora da sua realidade e acima de tudo dos seus planos e da sua visão para o futuro.
Os últimos anos foram anos de grande acerto em termos das decisões e dos investimentos que foram feitos neste setor, evidenciando a qualidade e capacidade das nossas empresas e empresários na hora de atrair os turistas e contribuir para o crescimento económico do País, num setor tão competitivo com o turismo, sendo que esta capacidade de gestão dos nossos empresários irá prevalecer no ajustamento do setor aos novos desafios.