Vamos mais do que a meio do verão, mas no Alísios, como de resto na generalidade dos hotéis do Algarve, é como se o ano turístico só tivesse verdadeiramente começado agora. A pandemia obrigou a fechar a unidade a partir de 10 de março (desde o início desse mês já não havia clientes) e só voltou a abrir portas quase quatro meses depois, a 1 de julho. Desde então, dentro dos condicionalismos, “tudo tem corrido de forma perfeita”, explica José Carlos Leandro, presidente do conselho de administração da Alísios II.
A ocupação do hotel de quatro estrelas, localizado junto ao mar e no centro de Albufeira, está nos 50%, de acordo com a oferta disponível e com o cumprimento das normas recomendadas. Agora, a recente retirada de Portugal da lista de destinos submetidos a quarentena pelo Reino Unido, poderá ser uma “mais-valia muito importante” para a recuperação. Isso desde que – insiste o gestor – as normas sejam cumpridas rigorosamente por quem nos visita.
Nenhuma outra região do País sofreu um impacto tão forte dos efeitos da pandemia no turismo como o Algarve, com o desemprego a mais do que triplicar em termos homólogos em junho e julho, meses que já costumam ser fortes para o setor. A exposição aos mercados internacionais (no ano passado estes turistas geraram 75% das dormidas na região) e uma Páscoa que não existiu (afastando a procura de cidadãos nacionais e espanhóis) foram determinantes para este cenário.
Resultado: depois do melhor ano de sempre (2019), este arrisca ser seguramente o pior de sempre para o Alísios, senão para todos os empreendimentos turísticos da região. Ainda assim, e numa altura em que o hotel cumpre 30 anos, José Carlos Leandro não baixa os braços. “Vamos continuar a trabalhar com a mesma determinação e empenho, para conseguirmos ultrapassar a terrível situação que se instalou e nos impediu de obter melhores resultados. Temos de ser resilientes e empenhados para acreditar que em 2021, tudo estará bem diferente e voltar à laboração normal,” garante.
Vamos continuar a trabalhar com a mesma determinação e empenho, para conseguirmos ultrapassar a terrível situação que se instalou e nos impediu de obter melhores resultados
josé carlos leandro
Investimento vs. burocracia, sazonalidade e e escassez de mão de obra
Há mais de uma década (desde 2008) que o Alísios é, de forma consecutiva, considerada PME Líder, além de PME Excelência (só não obteve este estatuto num ano, em 2012). O hotel refere ainda que foi o primeiro no País a obter a certificação integrada (qualidade, ambiente e segurança alimentar) da SGS. Esforços e reconhecimentos que se juntam à aposta feita na modernização das instalações. A maior intervenção, um investimento de 2,1 milhões de euros, ficou concluída em finais de 2018, com a remodelação da generalidade dos espaços de acolhimento, alojamento e restauração. Obras que, além de beneficiarem de verbas comunitárias, foram financiadas pelo Novo Banco.
Mas mesmo que empresários e financiadores se esforcem por melhorar a oferta dentro de quatro paredes, há problemas que se mantêm no setor e que não se conseguem mudar com a rapidez com que se ergue uma parede ou se muda o mobiliário de um quarto. Entre eles o gestor destaca a burocracia (“o pior vírus que existe no nosso País (…) dando força gigante ao pequeno poder”) ou a falta de mão de obra com formação adequada, consequência também da saída de profissionais nos anos da troika. “Lamento sinceramente que não se tenha aproveitado estes longos meses, de paragem quase total, promovendo cursos de formação profissional, esbatendo a lacuna existente, aumentando a valia tão necessária e indispensável ao sector. Quando a pandemia terminar, voltaremos seguramente ao triste panorama anterior,” afirma, em resposta a questões da EXAME.
Já quanto à sazonalidade, fenómeno vincado na região (quase metade das dormidas ocorrem de julho a setembro), confessa que já não pode ouvir a palavra, de tantas vezes os responsáveis políticos a identificaram como um problema grave sem que pareça haver interesse em encontrar a solução. “Vamos ter fé que daqui mais algumas décadas este assunto seja resolvido…e a partir daí, faltará um tema importante para fazer bons discursos e recolher muitas palmas,” afirma.
Apesar da probabilidade de 2020 ficar registado nos livros de contas da empresa como o pior exercício de sempre, não será ocasião para ficar parado. À EXAME, José Carlos Leandro revela que o seu grupo espera começar ainda este ano, através da empresa Valeandro Lda, a construção de um hotel rural de cinco estrelas, que ficará localizado a 11 km de Albufeira. Mais uma prova de que o setor não desistiu de remar, nem mesmo quando os ventos são contrários.