A atividade turística na Madeira bateu todos os recordes em 2022, em linha com o bom desempenho do setor no continente. Recebeu cerca de dois milhões de hóspedes, que representaram 9,6 milhões de dormidas, um aumento de 96,5% face a 2021 e de 17,8% face a 2019. O anterior recorde era de 8,4 milhões de dormidas, registado em 2017. Os portugueses representam cerca de 19% do mercado, ultrapassados pelos ingleses (21%) e alemães (20%). Franceses (7%) e polacos (5%) fecham o top 5 das principais nacionalidades que visitam a ilha.
Até 2027, a estratégia passa por continuar a promover o destino, nomeadamente no Brasil e, principalmente, valorizar o setor através do controlo da oferta existente, numa região onde o Turismo representa 29% do PIB.
“Na Europa, o objetivo é consolidar e estar atento a novas oportunidades [com destaque para a reabertura de rotas a leste, dependendo da evolução do conflito]. Na América, é afirmar”, explicava esta quinta-feira Eduardo Jesus, Presidente da Associação de Promoção da Madeira, num encontro com jornalistas. O responsável, que já fechou o Plano de Ordenamento do Turismo para os próximos cinco anos, defende a criação de valor no setor, cuja rentabilidade diz ser essencial para dotar os operadores de capital para os desafios que se avizinham ao nível da tecnologia e inovação, além da necessidade de reter os trabalhadores em atividades turísticas.
O plano prevê, por isso, o controlo da oferta existente em alojamento tradicional até ao máximo de 40.000 camas, cerca de 17% acima da disponibilidade atual. Até 2027, a aprovação de novos empreendimentos está limitada a 80 quartos por hotel, ou 160 camas, um valor que pode, no entanto, ser revisto em baixa caso o crescimento do alojamento local (AL) supere os 3%, durante três anos consecutivos. “Não queremos voltar a cometer os mesmos erros que cometemos nos anos 90, quando as facilidades de investimento devido à disponibilidade de fundos comunitários levou a um excesso de oferta de camas. Não queremos que a Madeira se deixe embalar num crescimento desmedido da oferta”, aponta Eduardo Jesus. O responsável nota que o AL é da competência municipal, mas descarta que o crescimento desta modalidade constitua um problema, quer na Madeira, quer no continente, pelo menos, de forma global.
Num momento em que o Governo se prepara para aprovar novas regras para o AL – que incluem a proibição de novas licenças e o pagamento de um imposto extraordinário – Eduardo Jesus pede cautela nas medidas, sob pena de pressionar todo um setor que trouxe benefícios ao país, nomeadamente ao nível da reabilitação de imóveis e da diversidade da oferta turística. “Estude-se o problema. Temos de parar e refletir sobre a melhor forma de encontrar um equilíbrio. Penso que seria interessante calcular a densidade turística [rácio dormidas/população] ao nível dos municípios, ou até de forma mais fina, ao nível das freguesias, para perceber o verdadeiro impacto desse setor sobre a população”.
Na Madeira, esse rácio é de 37% – em Lisboa e Porto supera os 50% – com o AL a representar 48% da oferta existente, mas apenas 23% das dormidas.
Já quanto ao dossier TAP, com implicações profundas nas ligações à Madeira, Eduardo Jesus diz que “a melhor aliança para nós é aquela que garanta a conectividade, sendo sensível à necessidade de continuidade territorial. A acessibilidade entre a Madeira e o continente tem de ser salvaguardada”.