Tudo o que escrevemos no título é verdade, mas não tem obrigatoriamente uma relação causa/efeito. Na verdade, a subida do preço dos alimentos desde o dia 23 de fevereiro de 2022, véspera do início da Guerra na Ucrânia, está muito acima daquilo que tem sido a taxa de inflação e é, suspeita-se, muito alimentada pela especulação.
São poucas as razões materiais que podem explicar as subidas superiores a 25% de produtos como os laticínios ou o arroz (cujo preço disparou 73%), que são produzidos nacionalmente, e cuja grande percentagem do aumento de preço, segundo os produtores, está a ficar algures a meio da cadeia de distribuição.
Mas a verdade é que as famílias que vivem em Portugal estão a pagar agora mais 24,52% para conseguir comprar o mesmo cabaz de bens alimentares essenciais do que pagavam em fevereiro do ano passado, numa altura em que o custo de vida se está a tornar num desafio. É que a perda do poder de compra é real, com os trabalhadores a perder cerca de 5% do seu poder de compra. Contas feitas, e agora é preciso gastar €228,66 para comprar os mesmos produtos que, nem há um ano, custavam €187,70. Uma diferença de €45,03 que faz muita diferença no bolso de grande parte das famílias que vivem em Portugal.
Os dados compilados pela Deco Proteste, que tem acompanhado a evolução do preço dos alimentos desde o início do ano passado, e numa base semanal, revelam por exemplo que o preço dos cereais disparou 17% entre os dias 8 e 15 de fevereiro, enquanto os iogurtes líquidos avançaram 15% no espaço de uma semana. Quando se olha para a comparação com fevereiro do ano passado, o destaque vai para a Polpa de Tomate, cujo preço acelerou 83% e para o já referido arroz carolino. Também o carapau ou a couve coração registam subidas de preço superiores a 70%. Já pelo litro de azeite, base de praticamente todas as receitas portuguesas, está a pagar-se hoje mais 50% do que no ano passado.
Produtos com maior variação de preço semanal | ||||
PRODUTO | 08/fev | 15/fev | Diferença | 08/02 – 15/02 |
Cereais | 3,06 € | 3,59 € | 0,53 € | 17% |
Iogurte líquido morango | 2,22 € | 2,54 € | 0,32 € | 15% |
Polpa de tomate | 1,44 € | 1,63 € | 0,19 € | 13% |
Arroz carolino | 1,81 € | 1,97 € | 0,16 € | 9% |
Café torrado moído | 3,23 € | 3,52 € | 0,29 € | 9% |
Tomate | 2,66 € | 2,86 € | 0,20 € | 8% |
Medalhões Pescada | 6,16 € | 6,58 € | 0,42 € | 7% |
Batata vermelha | 1,20 € | 1,28 € | 0,08 € | 6% |
Massa esparguete | 1,13 € | 1,20 € | 0,07 € | 6% |
Couve flor | 2,79 € | 2,95 € | 0,16 € | 6% |
Quando se olha para a carne, a variação de preço é de 22% entre 23 de fevereiro de 2022 e 15 de fevereiro de 2023, a data para a qual há dados mais recentes.
Tal como a EXAME já tinha dado conta, o facto de o cabaz de bens essenciais estar a registar um aumento tão significativo, significa que as famílias já estão a pagar praticamente um terço do salário mínimo para ter aquilo que é o mais básico dos básicos para ter à mesa.

Numa altura em que a guerra não dá sinais de abrandamento – nem a inflação, pelo menos para já – este aumento de preços vem agravar o peso das despesas fixas dos agregados, que já estão a braços com os aumentos de rendas, dos créditos à habitação, da energia e dos serviços de telecomunicações, só para dar alguns exemplos.
Quanto aos salários, registam um aumento que nem chega para compensar o aumento da inflação, que se fixou nos 8,4% em janeiro.