Há cinco anos a trabalhar a liderar os destinos da IKEA Portugal, a sueca Helen Duphorn admite que pediu para vir para cá quando lhe deram uma geografia à escolha, e depois de ter passado por vários mercados ao longo dos 20 anos de carreira no grupo Ingka, a holding que detém a IKEA.
“Acho Portugal um mercado muito interessante para a IKEA, porque conseguimos mesmo ajudar pessoas com baixo poder de compra – e genericamente, em Portugal, há um baixo poder de compra – a ter uma casa muito confortável e isso é muito interessante”, justifica. Acresce a isso o facto de os portugueses terem facilidade em falar línguas estrangeiras e de, claro, ser um País com um clima apelativo.
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Numa conversa em que partilhou o palco com as CEO da Volvo Portugal e da Nestlé Portugal, Helen chamou a atenção para o facto de, culturalmente, os portugueses serem muito acolhedores e muito honestos, apesar de levarem o seu tempo a confiar nas pessoas, “algo que é parecido com o que acontece na Suécia”, admite.
Mas, à semelhança daquilo que apontou a sua colega sueca Susanne Hägglund, há um ano à frente da Volvo Portugal, Helen acredita que é fundamental encorajar “os trabalhadores a falarem mais e mais cedo. A dizerem às chefias, mas também uns aos outros, quando não estão no caminho certo, ou a falar sobre aquilo de que não gostam. Eu gostava mesmo que as pessoas falassem mais, que dissessem mais cedo quando algo não está bem!”, partilha.
As gestoras respondiam à questão do diretor da EXAME, Tiago Freire, sobre o mito “em que todos acreditamos”, sobre o facto de os trabalhadores portugueses serem muito valorizados quando estão fora do País, enquanto cá dentro parecem não conseguir atingir os mesmo níveis de produtividade.
Anna Lenz, que assumiu a presidência executiva da Nestlé Portugal há sete meses, lembra, com a assertividade suíça que a nacionalidade lhe dá que “a produtividade em Portugal é mais baixa do que em outros sítios, mas creio também que isso está muito ligado ao facto de o País ter muitas PME. Os portugueses expatriados são muito procurados, pela sua cultura, pelo domínio do inglês” e claro que também têm estado mais disponíveis pelas “pelas condições muito precárias” que os jovens encontram em Portugal, quando começam a trabalhar. Mas, salienta, na Nestlé Portugal não sente essa falta de produtividade talvez porque, reflete, tal como na IKEA, a empresa tem uma liderança menos hierarquizada, o que permite uma comunicação mais fluída e um ambiente propício à troca de ideias. “Não há um respeito exagerado pelas chefias”, acrescenta Helen Duphorn.
“Acho que uma das questões que realmente importa trabalhar é a de que as pessoas possam falar e que possam pôr em causa as lideranças”, adianta ainda a CEO da Volvo. “E aqui não há essa cultura. Portanto, possivelmente o que acontece quando os portugueses saem, é que as pessoas florescem no seu ambiente de trabalho porque podem ser ouvidas e criar valor. Temos de tentar que as pessoas se sintam atraídas por ficar aqui”, salienta ainda lembrando que o País atravessa uma crise de talento – tal como já tinha sido sublinhado por Isabel Vaz e Vítor Ribeirinho num outro painel da manhã.
Portanto talvez seja preciso começar a pedir isso mesmo aos líderes em Portugal: que escutem mais, que criem um ambiente “seguro” para os seus trabalhadores de forma que eles se sintam motivados e engajados com as organizações.
Numa conversa que aconteceu em inglês e em português – Anna Lenz é fluente no idioma; Susanne pediu, na língua de Camões, desculpa por não conseguir ainda participar numa conversa mais profunda sem ser em inglês (mas prometeu, divertida, que daqui a um ano voltaria a tentar) e Helen admitiu que não conseguiu ainda dominar a língua – o painel ‘Gerir em Português’ voltou a ser um dos mais bem acolhidos da Conferência “Portugal em EXAME: A economia na encruzilhada”, que aconteceu esta quinta-feira, 16 de fevereiro, num hotel no centro de Lisboa.
E, em jeito de curiosidade, as três executivas admitiram ainda que Portugal foi uma escolha pessoal quando lhes deram opções sobre para que País ir de seguida. “Eu vivi em 20 países e este foi o único em que comprei casa”, confessa Anna Lenz com uma gargalhada. “E eu já não me vou embora”, responde Helen, divertida. “Fico aqui para a reforma, já decidi”. Com as famílias a partilhar do seu entusiamo por Portugal, todas elas garantiram que foi fácil integrar-se na vida social, no sistema educativo e também na forma de trabalhar e viver no País.