Diz quem teve oportunidade de o visitar que o “Pica no Chão”, o restaurante que liderou no início dos anos 2000, foi uma revolução na restauração lisboeta. Nessa altura eu praticamente ainda não bebia vinho, e pouco conhecia do Bairro Alto – bom, tirando alguns bares – mas são demasiadas opiniões para que as possa ignorar. Vítor Claro tinha, na altura, pouco mais de 20 anos, e depois disso passou por Espanha, Inglaterra e, no regresso a Portugal, por várias cozinhas antes de abrir o seu Claro!, em Oeiras. No final de 2016, porém, decidiu dedicar-se somente aos vinhos, uma paixão que descobriu pelas mãos de Dirk Niepoort e que tem aprofundado ao lado da mulher, Rita Ferreira.
A vantagem de ir entrado em modo slow motion em alguns mundos é que conseguimos ser surpreendidos, quando todas as pessoas parecem já conhecer todos os atores de uma indústria. Eu não conhecia o trabalho do Vítor até há muito pouco tempo, apesar do muito que se escreve e se fala de um produtor que, segundo alguns, é acima de tudo um ótimo anfitrião à mesa – já que, desde a comida aos vinhos, nada fica ao acaso.
Este Dominó Foxtrot de 2020 é um bom exemplo daquilo que Vítor Claro sempre disse querer dos seus vinhos: produtos menos alcoólicos, menos pesados e menos amadeirados do que os que se tinham tornado imagem do Alentejo nos últimos anos. Queria vinhos finos, elegantes, leves e que não precisassem de muito mais para além de excelentes uvas e muita atenção na produção.
Este tinto com 12% de álcool, feito de Alicante Bouschet, Trincadeira e diferentes variedades de Moscatel, dá-nos muitos aromas de frutos vermelhos e ameixa, e de, muito ao de leve, morango fermentado. É um vinho claramente rústico, com uma elegância campestre que o torna divertido, diferente e muito fácil de beber.
Com uma acidez surpreendente para um vinho do Alentejo – lá está, é possível, mas é facto que as vinhas velhas de Salão Frio, na Serra de São Mamede, têm condições especiais para se conseguir um vinho com esta frescura –, mantém na boca as notas de morangos e cerejas, com a ameixa a aparecer de vez em quando.
De final curto, é uma boa companhia para uma refeição de petiscos, em que se vai comportando de várias formas consoante os sabores com que tiver de lidar na boca. Acima de tudo, é um vinho que tem tantas surpresas que se torna uma feliz escolha para um bom jantar de amigos. À venda por cerca de €15, é possível encontrá-lo em várias garrafeiras nacionais.