A Casa da Passarella tem-nos habituado, ao longo da última década, a ser o perfeito cartão de visita dos vinhos do Dão. Fundada na era pós-filoxera, conta histórias que encantam e que se traduzem em vinhos cheios de saber adquirido pelo contacto com a terra e a experimentação, e são dignos representantes de um terroir único em Portugal, que se arrisca, nos próximos anos, a ser mesmo a nossa melhor aposta.
Paulo Nunes, o discreto mas eficaz enólogo responsável por referências marcantes como O Fugitivo Pinot Noir (possivelmente um dos mais interessantes Pinot Noir dos últimos [muitos] tempos) ou o Fugitivo Branco em Curtimenta (Portugal ainda tem pouquíssimo ‘grandes’ brancos mas este arrisca-se mesmo a ser um deles), apresentou recentemente, em Lisboa, a último novidade da casa do Dão: o Vindima 2011. Onze anos, explica o enólogo, “foi o tempo exato que demorou a conceção, crescimento e maturação de um vinho criado para receber o nome da Casa da Passarella e perpetuar o nosso património, que se estende por bem mais de um século. Na realidade, este é um vinho que carrega consigo a responsabilidade de mais de 130 anos da nossa história”, afirma. Sucede ao Vindima 2009, que foi a primeira referência topo de gama da marca.
Uvas escolhidas de entre as sete vinhas da Casa da Passarella, que contam com muitas diversas parcelas centenárias e mais de 20 castas nativas. O processo de vinificação foi feito em lagar de granito e que, a partir de maio de 2013, iniciaram um processo de maturação em garrafa. O rearrolhamento, totalmente manual, foi realizado em abril deste ano e o vinho chega agora ao mercado.
São 3600 garrafas de um tinto com muitos aromas a frutos vermelhos – nós deixá-lo-íamos mais uns 10 anos em garrafa – e uma frescura muito interessante, a gritar Dão a cada inspiração. Um vinho claramente de vinhas velhas, relativamente seco, algo tanínico mas sem perder elegância, embora mais estrutura não lhe ficasse mal. A cor, um vibrante rubi, é garantida pela co-fermentação com uva branca, e tem um final prolongado onde a acidez se torna mais evidente e confirma o equilíbrio e qualidade da referência.
Posto à venda no mercado por €260, arrisca, porém, perder-se precisamente pelo custo – justificado pelo tempo de guarda e pela história – porque não é, na nossa opinião, um vinho que valha dez vezes mais que os seus colegas de casa. Qualquer Fugitivo levou de nós uma nota mais alta – não só porque estão realmente bem feitos mas sobretudo porque nos deixaram a pensar e a sentir uma região que, felizmente, começa a ter a atenção que merece.
É certo que os vinhos nacionais são, genericamente, vendidos a um valor muito mais baixo do que aquele com que deviam estar marcados. É conversa recorrente e já o escrevemos aqui várias vezes. Mas a verdade, também, é que não basta colocar um valor numa garrafa e esperar que isso valorize a produção ou a região apenas porque sim – e não é também por haver quem pague que as coisas valem o que se pede por elas. Num mercado global como aquele em que os vinhos nacionais procuram o seu lugar, é preciso particular cuidado neste tipo de decisões.
O Vindima 2011 é um vinho extremamente bem feito, com particularidades valiosíssimas que permitem reconhecer as vinhas e a região de onde nasce. Mas não é um vinho que valha os €260 (quais são os que valem?) pelos quais está a ser vendido.