A política monetária europeia, que mantém inalterada a taxa de referência em 0% – e já sinalizou que a primeira subida de juros não deverá ter lugar antes do último trimestre do ano – está a pressionar o euro, que caiu hoje abaixo dos $1,06 pela primeira vez desde abril de 2017. A moeda única já perdeu mais de 4% só este mês e encaminha-se para a maior queda mensal em sete anos.
Mais do que uma fraqueza do euro, o fenómeno prende-se sobretudo com a força do dólar, basicamente por dois motivos: a instabilidade internacional está a fazer os investidores refugiarem-se na moeda norte-americana; e a agressividade das subidas das taxas de juro nos EUA face à Zona Euro torna a nota verde mais atrativa face ao euro.
“O euro está a cair para mínimos de 5 anos frente ao dólar, mas ainda relativamente forte contra um cabaz alargado de moedas. Mau para a inflação, não é bom para as exportações, e outra dor de cabeça para o BCE”, resumia esta manhã Frederik Ducrozet, estratega da Pictet Asset Management, no Twitter. A divergência de rumo da política monetária nos dois lados do Atlântico começa a ter consequências cambiais, com os investidores a apostarem que o BCE não conseguirá manter o passo com a congénere norte-americana, que assumiu em março o “mandato único” de combater a inflação.
Embora os mercados já tenham começado a incorporar o fim da política monetária ultra-expansionista na Zona Euro – que não deverá acontecer antes do final do ano – o BCE está, para já, refreado pela ameaça da guerra na Ucrânia ao crescimento económico do bloco e pela subida dos preços da energia, que podem intensificar-se caso os Estados-Membros decidam impor sanções às exportações do petróleo e gás russos. Em contrapartida, nos EUA, a Reserva Federal já iniciou o ciclo de normalização da política monetária. Subiu juros em março, pela primeira vez desde 2018, e sinalizou mais seis subidas até ao final do ano, para perto de 2%.
Receios de uma nova vaga de COVID19 na China amplificaram esta semana o movimento, com os investidores a procurarem o refúgio da moeda norte-americana.
“O mercado está convencido que a FED será mais agressiva que o BCE em praticamente qualquer cenário”, comentava Athanasios Vamvakidis, responsável pela estratégia de ativos cambiais do Bank of America, citado pelo Financial Times. “Acho que estamos a assistir a uma capitulação muito atrasada dos investidores que têm sido relutantes em assumir posições curtas [do euro face ao dólar]”.
Apesar dos mínimos contra o dólar, o euro continua forte frente a um cabaz de moedas, como o iene japonês, a libra britânica ou a coroa sueca, frente às quais continua a registar ganhos em 2022, o que, na opinião de Vamvakidis abre espaço para uma desvalorização adicional da moeda única, incluindo contra o dólar.
Também os analistas do ING, na sua nota divulgada esta manhã, colocam agora o próximo suporte em $1,05. “A flagrante incapacidade do euro de avançar suportado pelos comentários de membros do BCE que defendem uma política mais agressiva (o que não é surpreendente, dado que uma subida de 75 pontos base já está incorporada no preço) significa uma vulnerabilidade persistente a um ambiente externo afetado negativamente por uma situação cada vez mais preocupante na Ucrânia e à força generalizada do dólar”. Os especialistas adiantam que “o euro pode encontrar algum suporte amanhã, à medida que os números de inflação dos países da zona do euro começam a chegar, mas a possibilidade de $1,05 ser testado até o final da semana aumentou”.