A sustentabilidade é um tema a que cada vez mais empresas prestam atenção. E quem não apanhar este comboio arrisca perder oportunidades de crescimento. “O ESG é uma macrotendência e veio para ficar. Passou a ser uma exigência dos clientes”, observou Luís Castro Henriques, presidente da AICEP, num debate na cerimónia de entrega do Prémio de Inovação em Prevenção.
O responsável pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal revelou que as empresas exportadoras são as que mais sensibilizadas estão para cumprir com estes critérios ambientais, sociais e de governação. Até porque a pressão dos clientes lá fora assim o exige. “Há muitos que pensam que a sustentabilidade é só ser verde, mas é muito mais vasto”, referiu Luís Castro Henriques. E exemplificou: “Se estiver a receber clientes japoneses ou nórdicos, tenho de ter práticas que não sejam apenas de bom desempenho a nível ecológico”. E revelou que “há uns quanto setores – principalmente exportadoras – que estão a par desta matéria”.

Luís Castro Henriques considera que alguns setores “ditos tradicionais” – como o têxtil – já perceberam a importância da sustentabilidade como uma vantagem competitiva. “O setor percebeu que se não tiver determinados critérios de ESG não vendem” em alguns mercados como a América do Norte e os países nórdicos. O responsável da AICEP observa que o têxtil “percebeu isto há 20 anos” e uma das apostas da agência para o futuro próximo passa por lançar uma campanha de promoção da moda sustentável.
Turismo sustentável
Outro dos setores-chave para a economia portuguesa que tem investido na sustentabilidade é o turismo. Cristina Siza Vieira considera que se fizeram progressos na parte ambiental e social. “Estamos bem no E no S”, afirmou a CEO e vice-presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP). Já na parte da governação das empresas, a responsável reconhece que “a questão da diversidade no board das empresas de hotelaria não existe”, já que têm “um carácter muito familiar”.

Cristina Siza Vieira observou que o turismo em Portugal tem investido em infraestruturas sustentáveis. Mas realça que a geografia do País complica o objetivo de se oferecerem experiências 100% sustentáveis. “Portugal é uma quase ilha e podemos ser muito sustentáveis com a infraestrutura hoteleira, mas temos de chegar cá de avião. Somos sustentáveis, mas é precisa chegar cá”, referiu. E conclui: “O destino é sustentável, mas chegar cá não é ainda tão sustentável quanto se desejaria”.
Já em relação á recuperação do setor após o choque da Covid-19, a responsável da AHP revelou que haverá “resultados espantosos” na Páscoa e “boas perspetivas para o Verão”.
Exemplos na inovação em prevenção
A sustentabilidade é essencial também para ajudar a prevenir riscos nos negócios. E no evento da entrega do Prémio Inovação em Prevenção, os vencedores da edição do ano passado partilharam as experiências de como prevenir pode ser mesmo a melhor estratégia e evitar dissabores financeiros e reputacionais.
Diana Aquino, administradora da Gofoam – que foi distinguida no ano passado na categoria de Património – explicou que este “investimento por vezes acaba por não ser tangível, mas são pequenos passos dados no dia-a-dia e no final de um ano consegue-se consciencializar todas as pessoas e que estas fiquem a saber todos os passos que têm de dar para mitigar riscos”. Esta empresa da área química está situada em Tábua, um concelho que já foi afetado por grandes incêndios e a empresa “tem regras e normas para se cumprir para que não haja nenhuma falha”.
Também Patrícia Ferreira, CEO da Valerius – que foi a premiada na edição anterior na categoria de Ambiente – explicou que o investimento avultado em instalações que permitam sustentabilidade na produção são uma espécie de “seguro de vida” da empresa e permitem oferecer “valor acrescentado” aos clientes. “Sermos uma empresa sustentável permite-nos uma vantagem competitiva”, explicou a gestora.
Já Tiago Marques Pereira, administrador financeiro da Balanças Marques – que venceu o prémio principal e a categoria de Pessoas na edição do ano passado – explicou a importância das políticas de recursos humanos e de inovação na sustentabilidade do negócio. “Somos uma empresa com mais de 50 anos. Mas se o nosso negócio há 30 anos era um conjunto de serralheiros e de venda de ferro, hoje a componente tecnológica são 70% do nosso produto. Se não tivéssemos contratado na área tecnológica hoje em dia não estávamos cá”, afirmou.
Assim, a empresa tem adotado políticas de bem-estar dos seus funcionários para captar e reter talento numa área em que a concorrência por mão-de-obra qualificada é bastante forte. “Fazemos questão que as pessoas que trabalham aqui connosco se sintam inseridas numa família”, referiu Tiago Marques Pereira. A prioridade, explicou, é ter “políticas de recursos humanos para reter os nossos talentos e sermos uma empresa atrativa para contratar no mercado”.