Esta quinta-feira foi um dia rico em indicadores económicos, alguns dos quais com grande significado para Portugal. E o resumo é que os números mostram uma maior força económica no curto prazo e que as pressões inflacionistas se estão a manifestar com grande agressividade.
Vamos por partes, começando pela boa notícia. A Comissão Europeia está ligeiramente mais otimista sobre o crescimento da economia portuguesa, melhorando em 0,2 pontos percentuais as projeções de crescimento para 5,5% este ano e para 2,6% em 2023, segundo as previsões macroeconómicas de inverno hoje divulgadas. No outono antecipava uma expansão de 5,3% este ano e de 2,4% em 2023.
A previsão de Bruxelas para este ano alinha com a estimativa do Governo, que prevê uma expansão do PIB de 5,5% ou mais, e coloca o crescimento acima dos 4% previstos para a zona euro e para a União Europeia.
No entanto, um outro dado veio retirar brilho a estas estimativas, sobre a evolução dos preços. A inflação em Portugal registou uma subida homóloga de 3,3% em janeiro, naquele que é o maior aumento observado desde há quase dez anos. O valor agora confirmado já tinha sido avançado enquanto estimativa no final do mês passado, seguindo-se aos 2,7% apontados em Dezembro, e reforça aquilo que os portugueses sentem no dia a dia: os preços estão a aumentar de forma mais expressiva. Excluindo da análise os produtos energéticos e alimentares não transformados, a subida foi de 2,4% em Janeiro, uma aceleração face aos 1,8% do mês anterior.
Talvez mais relevante ainda foram os dados internacionais sobre a inflação. A Comissão Europeia reviu hoje em alta a taxa de inflação para 2022, para 3,5% na zona euro face aos 2,2% anteriormente previstos, numa altura em que os preços batem máximos puxados principalmente pelo setor energético. E explica, nas suas nas previsões macroeconómicas intercalares de inverno: “Em comparação com a previsão de outono, as projeções de inflação foram revistas em alta, uma vez que os preços da energia deverão agora permanecer elevados por mais tempo e as pressões sobre os preços estão a alargar-se a várias categorias de bens e serviços”.
Do outro lado do Atlântico, o número é ainda mais expressivo. A taxa de inflação anual nos Estados Unidos disparou para 7,5% em janeiro, mais cinco décimas em relação a dezembro, informou hoje o Departamento do Comércio. O valor ficou acima das expectativas já elevadas da maior parte dos analistas e levou mesmo a uma grande pressão sobre Wall Street, na abertura de sessão de quinta-feira.
Todos estes dados sobre a inflação lançam ainda mais dúvidas sobre a tese dominante há alguns meses, de que estaríamos perante um fenómeno transitório, fruto do desajuste temporário da oferta e da procura com a reabertura das economias, após os constrangimentos da pandemia. Cada vez mais vozes disputam esta visão e o consenso é de que, no mínimo, este fenómeno vai durar mais do que o esperado. Sobre o que acontecerá no médio e mais longo prazo, ainda é difícil dizer.
No entanto, os números da inflação dão gás aos que defendem uma maior agressividade no movimento de subida das taxas de juro, para contar a escalada dos preços. Em alguns grandes blocos económicos esse processo está em marcha, com os Estados Unidos à cabeça. Na Europa, apesar da pressão alemã, o Banco Central Europeu tem tentado deitar água na fervura. Mas já não exclui uma subida das taxas de juro ainda este ano.
Apesar da necessidade de controlar os preços, o BCE e a Comissão Europeia não querem inverter já o ciclo económico e com isso arriscar a limitação do movimento de retoma. Para além disso, o facto de vários países da Zona Euro, como Portugal e Itália, por exemplo, continuarem com uma elevada dívida pública – ampliada pelos esforços públicos de combate à pandemia e aos seus efeitos económicos – leva a uma cautela acrescida no que toca a quaisquer subidas das taxas de juro. É quase certo que elas irão acontecer, e provavelmente a partir do próximo ano. Sinal dessa convicção é a subida dos juros soberanos de países como Portugal, já a começar a incorporar esse efeito