Desde 2020 registaram-se algumas alterações no mercado imobiliário residencial e de escritórios, por razões óbvias: o teletrabalho obrigou a redefinir espaços, muitas famílias procuraram habitação fora das grandes cidades, outras querem ficar mas em áreas maiores e com outras características e os escritórios deixaram de ser um espaço para se ir apenas trabalhar.
Variáveis que ajudaram a alavancar os resultados da JLL, que fechou 2021 a bater recordes de operações, numa altura em que emprega 343 pessoas e se prepara para continuar a crescer.
Da hotelaria ao retalho, as alterações foram acomodadas e os números positivos. No entanto, o português médio continuará a ter dificuldades de acesso a habitação a preços que possa comportar. “Há uma escassez identificada na procura por parte da classe média, porque há pouca oferta para a equação financeira que consegue suportar. Existe uma procura enorme e pouca oferta”, começou por identificar Gonçalo Santos, Head of Capital Markets da imobiliária.
Os especialistas apontaram soluções como a aceleração do licenciamento e a intervenção dos municípios para tentar fazer com que os preços possam ser mais acessíveis à classe média, mas a verdade é que justificam o aumento dos preços que se tem continuado a registar com a “dinâmica do mercado”. Portugal tem sido, desde a intervenção da troika e o pico da crise financeira, em 2012, um dos destinos favoritos de estrangeiros para investir neste setor, com os vistos Gold e programa de incentivo a investimento internacional a promover esta solução.
E se, por um lado, é inegável a recuperação do parque habitacional que foi possível graças a esses investidores, entretanto houve um significativo aumento da dificuldade de acesso à habitação por parte das gerações no ativo – que são, também, aquelas que mais formação académica têm e cujos salários tardam em descolar.
Aliás, dados do Fundo Monetário Internacional mostram Portugal no topo da lista dos países onde o preço das casas cresceu bastante mais do que o rendimento garantido.
Questionados pela EXAME, os responsáveis da JLL pedem mais políticas públicas e garantem que os privados estão a fazer a sua parte. Pedem mais intervenção dos municípios nas iniciativas do rendimento acessível, por exemplo, defendendo que a iniciativa privada precisa também destes incentivos para conseguir chegar a um equilíbrio.
“A dimensão publica e privada estão a trabalhar para atacar esta parte da procura [a classe média] que tem dificuldade em encontrar oferta. Alta de Lisboa, Miraflores ou Benfica já são zonas onde se vê crescer projetos para uma classe média. No início para uma classe média mais musculada, é certo, mas haverá um nivelamento dos preços a vir para o mercado pela classe média”, acredita Gonçalo. “A pressão nos preços só se resolve com a oferta”, justifica.
Já Patrícia Barão, Head of Residencial da JLL recorda que há outras grandes cidades da Europa a viver fenómenos semelhantes àqueles a que agora se assiste em Lisboa e no Porto – descaracterização de bairros centrais, preços incomportáveis para uma camada significativa da população – considerando-os normais funcionamentos do mercado. E repete o apelo para que o Estado continue a tentar colocar oferta no mercado para conseguir responder a esta falta de procura de habitação a custos que possam ser suportados pela classe média. “É um trabalho conjunto, não estamos a dizer que tem de ser totalmente resolvido pelo lado do Estado, mas tem de se continuar a investir”, defende.
“Estimamos que foram vendidas 190 mil casas no ano passado”, continua Gonçalo Santos, “sendo que dessas apenas 10% a estrangeiros. O que significa que nunca se venderam tantas casas a portugueses, o que é um ótimo indicador. Têm vindo para o mercado mais casas para o segmento médio alto e alto e é preciso atacar o segmento médio português”, admite. Mas, “quanto ao rendimento, infelizmente há um desacompanhamento porque as casas estão mais caras pelo ataque, precisamente, desses segmentos mais elevados. Mas isso não é uma questão imobiliária, é uma questão que se reflete no mercado”.
Durante a apresentação do seu JLL Portugal Market 360º referente a 2021, a consultora aproveitou ainda para revelar que foi líder no mercado em escritórios, ao garantir 36% das transações do mercado.