Depois de se afastar do megaprojeto que previa a construção de uma grande central de produção de hidrogénio verde para exportação a partir de Sines, a EDP volta a avaliar um projeto de obtenção deste gás renovável naquela área do País, desta vez de mão dada com a Repsol. Mas não se ficará por Sines: prevê também o estudo de oportunidades em duas zonas específicas de Espanha.
O acordo entre as duas empresas – conhecido um dia depois de a Repsol ter assinado com o Estado português um contrato de investimento que prevê até 63 milhões de euros em incentivos fiscais para construir em Sines duas novas fábricas de 657 milhões – prevê que a EDP Renováveis explore a possibilidade de fornecer energia para a produção de hidrogénio verde a utilizar pela energética espanhola naquele complexo industrial do Alentejo Litoral.
No comunicado divulgado esta quinta-feira, 14 de outubro – embora datado de ontem – a empresa liderada por Miguel Stilwell d’Andrade refere ainda que as duas companhias vão desenvolver iniciativas de cooperação semelhantes nas Astúrias – neste caso, no projeto denominado Aboño e que, pela mão da EDP, “pretende criar o ‘Vale do Hidrogénio’ – e no País Basco – onde a Repsol prepara um “eletrolisador de larga escala”, no âmbito do Corredor de Hidrogénio Basco. Mas não avança quaisquer potenciais valores de investimento ou calendários de execução.
Regresso a Sines, sem nunca ter saído
Em junho, menos de um ano depois de ter começado a avaliar com o consórcio H2Sines, integrado por outras empresas como Galp (que também se excluiu entretanto), REN, Martifer, a francesa Engie ou a Vestas, a EDP abandonou a ideia de participar no projeto de grande escala que seria candidato ao estatuto europeu de projeto importante de interesse comum (IPCEI). Na altura, a energética optou por dedicar-se a avaliar outros potenciais investimentos na área do hidrogénio verde e dizia estar a estudar 20 possibilidades em “várias geografias” em que opera, não descartando a possibilidade de Sines, onde operou durante 35 anos uma central termoelétrica a carvão, desativada no início de 2021.
Em julho, em declarações à EXAME (publicadas na edição em papel desse mês), o Ministério do Ambiente contabilizava em seis os projetos de possível produção de hidrogénio verde a partir de Sines incluindo o da Fusion Fuel e ainda o H2Sines, que considerava manter-se válido apesar das saídas da EDP e Galp do consórcio. Esta última empresa optou, na altura, por internalizar a produção deste gás renovável na sua refinaria de Sines, para substituir o hidrogénio “cinzento” – aquele que é obtido a partir do gás natural.
O memorando de entendimento que agora permite avaliar os três projetos a nível ibérico foi assinado esta semana entre o CEO da EDP e o seu homólogo da Repsol, Josu Jon Imaz, na embaixada de Espanha em Lisboa (ver foto). No mesmo comunicado, ambas as empresas sublinham a importância do acordo para alcançar as metas de descarbonização da indústria e da economia e do cumprimento das metas do Acordo de Paris, num contexto que é marcado, a nível global, pelos efeitos das alterações climáticas atribuídas principalmente à atividade humana.
Num outro comunicado também conhecido esta quinta-feira, a Repsol diz querer “liderar a produção de hidrogénio renovável na Península Ibérica e desempenhar um papel de liderança na Europa com o objetivo de ter uma capacidade equivalente a 552 MW até 2025 e de 1,9 GW até 2030.”
Além deste memorando, as empresas são parceiras no parque eólico offshore flutuante Windfloat Atlantic (ao largo de Viana do Castelo), tal como aconteceu em iniciativas semelhantes no Reino Unido, como os parques de Inch Cape ou MORL.