Mais de um ano depois de o Grande Confinamento ter obrigado ao encerramento de praticamente todas as unidades do Pestana Hotel Group (PHG) – ficaram ativas apenas as que deram apoio aos profissionais de saúde – e longe de regressar aos níveis pré-pandemia, a empresa criada por Dionísio Pestana apresentou os resultados relativos a 2020: um prejuízo de €32 milhões, com as receitas no segmento da hotelaria a cair 75%.
“Vínhamos de 4 anos fantásticos na atividade turística. Sabíamos que não era para manter, mas tínhamos tudo para pensar que 2020 seria um ano fantástico – tivemos o melhor janeiro e fevereiro de todos os anos”, recordou José Theotónio, CEO do grupo, numa conversa com jornalistas esta quarta-feira, 26 de maio, no Pestana Palace em Lisboa. O PHG tinha acabado de cumprir um marco histórico, ao abrir o 100.º hotel em Nova Iorque, em fevereiro desse ano, e os CR7 na mesma cidade norte-americana e em Madrid estavam nos planos para abrir no segundo semestre.

No entanto, a 16 de março as ordens para fechar em redor do mundo foram-se sucedendo, o que levou a dois meses consecutivos – abril e maio – com zero faturação na atividade hoteleira. A atividade imobiliária, o golf e o Casino da Madeira acabaram por ajudar a atravessar este período, mas não era expectável que conseguissem compensar, porque o peso nas receitas globais do grupo é, naturalmente, muito inferior ao da hotelaria.
Ainda assim, salienta o CEO do PHG, “tivemos um EBITDA positivo em €33 milhões e isto é algo que hoje nos orgulha. Sabendo que estes €32 milhões positivos deram muito mais trabalho que os €80 milhões que tínhamos antes. Estávamos habituados a ciclos, mas não a uma situação em que fecha tudo”, reitera o responsável.
O PHG perdeu 900 pessoas ao longo do último ano, entre contratos que não foram renovados – cerca de 600, e sobretudo de operacionais para os quais não tinham trabalho –, pessoas que entraram na reforma ou quadros que optaram por sair para outras atividades. Para já, foram contratadas cerca de 100 pessoas para cobrir estas saídas, nomeadamente nas áreas de tecnologia, onde a equipa é toda nova, com os anteriores quadros a procurar novas oportunidades em empresas de outros setores, justifica Theotónio.
Na mesma ocasião, o gestor chamou a atenção para o facto de o setor imobiliário do grupo ter tido uma prestação muito melhor do que seria esperando, tendo sido vendidas 80 unidades nos últimos meses, todo o inventário que era suposto alienar em 3 anos. “Esta área teve um crescimento de 25%, teve um impulso positivo” motivado pelas novas escolhas feitas pelos consumidores, muitos deles a querer fugir das cidades e a optar por estas unidades residenciais no Troia Eco Resort.
Recuperação? Em 2024
Apesar de já se notar uma melhoria da procura – o que não seria particularmente difícil tendo em conta que se partiu de uma base de quase zero em 2020 –, a verdade é que ainda vai demorar até se chegar a números pré-pandemia. “E nem estamos a falar de 2019. Se tivéssemos a atividade de 2016 já não era mau”, diz com um sorriso o CEO do PHG. Admite que o facto de Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Marrocos não estarem a receber turistas britânicos está a beneficiar o destino, e tem a estrutura pronta para facilitar os testes necessários e burocracias afins que receber quem vem do Reino Unido implica. E não nega que seria uma vantagem para Portugal se os outros países continuassem com regras mais apertadas durante mais duas ou três semanas.
Salienta que apesar de estarem a chegar ao País cerca de 5 000 turistas por dia, esse número é dez vezes inferior à média diária de 2019. Este mês, o PHG tem 35% das suas unidades abertas, espera ter 70% em junho, mas não sabe quando conseguirá ter a totalidade a operar. A estratégia é ir abrindo à medida que a procura o pedir, e naturalmente cumprindo as regras que cada país está a implementar.
O Park Avenue, em Nova Iorque, reabriu em janeiro, tal como a unidade em Miami. A de Berlim, porém, só reabrirá daqui a duas semanas, quando as regras o permitirem. E apesar de o cenário obrigar a alguma cautela, o responsável espera conseguir inaugurar os CR7 Times Square e Madrid este ano. “São cidades que estão com procura” e os hotéis estarão prontos daqui a mais ou menos dois meses.
E ainda outras seis unidades: duas no Porto, uma em Lisboa, uma em Vila Real de Santo António e duas em Marrocos (nas quais o grupo faz apenas a gestão).
“Mas queremos que seja um recomeço muito sustentável, muito gradual”, garante o gestor, adiantando que continuarão a olhar para oportunidades de investimento, com os constrangimentos inerentes à diminuição de capital disponível para o fazer, e também ao atual contexto.
“Acho que em 2024, como dizem os estudos, podemos estar em níveis pré-pandemia”, acrescenta. Até lá, é gerir expetativas, e perceber como se pode usar da melhor forma o dinheiro que o Governo disponibiliza para ajudar a retoma do setor. “Não é dinheiro novo”, refere quando questionado sobre os €6 mil milhões anunciados recentemente pelo Executivo como estando disponíveis para apoiar o Turismo, “mas pareceu-me um plano bem feito”, conclui.