A Alstom, que recentemente comprou a Bombardier Transportation e se tornou no segundo maior fabricante de comboios do mundo, admite voltar a construir material ferroviário em Portugal, 17 anos depois do fecho da Sorefame, detida na altura pela Bombardier. Tudo vai depender das encomendas que conseguir no País e da possibilidade de servir também o mercado internacional.
“É uma das opções. É uma das opções. Estamos a analisar muito de perto as oportunidades potenciais de localizar parte da produção, que pode começar com os componentes, e eventualmente, montagem final,” disse esta quinta-feira à EXAME o presidente da Alstom Europa, Gian Luca Erbacci. “Depende dos números e do que o mercado pedir. Assim que se comece algo, pode-se fazer para o mercado doméstico e para o internacional. Mas estamos abertos a essa possibilidade.”
De visita a Portugal para contactos com os stakeholders da ferrovia – CP, Infraestruturas de Portugal e o Governo, através do Ministério das Infraestruturas – o fabricante está de olho nas potenciais encomendas de material circulante (1.715 milhões de euros até 2030), mas não só. Além de carruagens e composições, a empresa também fornece mobilidade digital, sinalização, telecomunicações, infraestruturas e serviços para a ferrovia, setor ao qual o Programa Nacional de Investimentos reserva 10,5 mil milhões de euros, incluindo a construção da nova linha Porto-Lisboa.
Recentemente, em entrevista à EXAME (edição em papel de maio, ainda nas bancas), o presidente da CP, Nuno Freitas, estimava que a transportadora necessitará de 1000 carruagens novas nos próximos 20 anos e que estas poderiam ser produzidas em Portugal. “Claro. Temos de ser realistas, porque estamos a falar de coisas que custam dezenas de milhões de euros e temos uma frota imensa para substituir. É imperativo fazer muita coisa em Portugal, senão não vamos passar da intenção de comprar,” afirmou na altura, lembrando a existência no País de fornecedores como a Efacec, a ABB, a Salvador Caetano, a Festruca ou a Martifer.
Questionado sobre se Guifões, em Matosinhos (onde a CP/EMEF tem estado a recuperar material circulante nos últimos meses e o Governo quer instalar um Centro de Competências Ferroviárias para formar quadros especializados e promover a investigação) pode ser uma das localizações para estruturas industriais da Alstom, Gian Luca Erbacci não se compromete: “Estamos à procura de quais serão as localizações perfeitas”. Mas admite que gostaria de ser parceiro do centro: “É uma das mensagens principais que vamos discutir com o ministro das Infraestruturas”.