A crise provocada pela pandemia afetou o rendimento dos portugueses e deixou muitas famílias em dificuldades. Mas no total da economia a poupança tem aumentado, o que se traduz numa subida expressiva no dinheiro guardado nos bancos. Desde março do ano passado, mês em que foi decretado o primeiro confinamento no País, os depósitos de particulares nos bancos portugueses aumentaram mais de €12,3 mil milhões . O total aplicado em depósitos subiu para um recorde de €164,6 mil milhões no final de março deste ano, segundo dados do Banco de Portugal divulgados esta quinta-feira.
O fenómeno não é exclusivo de Portugal e tem-se observado na maior parte das economias avançadas. Segundo contas da consultora Capital Economics, no ano passado, as famílias dos países desenvolvidos aumentaram o valor guardado em liquidez em cerca de 3,5 biliões de dólares.
Existem vários fatores que podem ajudar a explicar esta subida dos depósitos. “Primeiro, as restrições de movimento e a limitação das atividades económicas limitaram os bens e especialmente os serviços que podem ser comprados”, explicam os economistas da Capital Economics, num relatório a que a EXAME teve acesso. As restrições à circulação fizeram afundar os gastos em viagens, hotéis e restaurantes, por exemplo.
Além da menor oferta de consumo, existe também uma atitude cautelosa. “A incerteza sobre o vírus provavelmente tornou as famílias mais cautelosas com os gastos, mesmo quando tiveram oportunidade de consumir”, indicam os especialistas da Capital Economics. Em algumas crises, quando confrontadas com a incerteza, as famílias aumentam o esforço de poupança. Apesar de numa dimensão menor, em Portugal isso foi visível nos primeiros anos da presença da troika no País, em que se observou também uma subida dos depósitos apesar dos cortes no rendimento.
Além destes dois fatores, os economistas da Capital Economics notam ainda que os governos tomaram medidas para mitigar o efeito da crise nos rendimentos das famílias. Em Portugal, entre as medidas de apoio colocadas no terreno estiveram instrumentos de apoio à manutenção dos postos de trabalho e a possibilidade de se adiar o pagamento de prestações dos créditos bancários. No final de fevereiro, data dos dados mais recentes do Banco de Portugal, as moratórias abrangiam créditos a particulares no valor de €19,6 mil milhões.
A Capital Economics nota que “os governos europeus recorreram mais à proteção de emprego e a subsídios aos salários, que não impediram uma descida dos rendimentos mas suavizaram o golpe e, em geral, o consumo caiu muito mais que o rendimento, resultando num aumento das poupanças”.