A notícia foi dada esta manhã pela Galp, em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM): a atividade de refinação em Matosinhos vai ser descontinuada a partir de 2021, passando estas operações da energética portuguesa a ficar concentradas em Sines. A empresa liderada por Carlos Gomes da Silva justifica a decisão com a alteração dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivadas pela regulação na Europa, a que se juntam reduções anuais de custos fixos e investimentos de cerca de 90 milhões de euros e a redução da pegada ambiental, com menos 90 kt de emissões de CO2 para a atmosfera, nas contas da cotada. O impacto no emprego é certo.
Num comunicado quase simultâneo, o Ministério do Ambiente veio reconhecer a preocupação com o futuro dos cerca de 300 trabalhadores e exigir à Galp “todo o empenho e sensibilidade social para procurar soluções para o futuro próximo”. Mas garantiu que o plano nacional para a transição justa – a concluir no primeiro semestre de 2021 e que operará a verba estimada em 200 milhões para Portugal para proteger os trabalhadores afetados e financiar novos negócios no âmbito da descarbonização – abrangerá a região onde se encontra a refinaria de Leça da Palmeira.
O Governo instou ainda a Galp a “procurar rentabilizar os ativos físicos que detém em Leça da Palmeira para o desenvolvimento de novos negócios industriais no domínio da energia”. O Eco avança que o futuro do espaço pode passar pela instalação de uma refinaria de lítio e, em declarações posteriores aos jornalistas, o ministro João Pedro Matos Fernandes apontou o papel que os terrenos e ativos de Matosinhos podem desempenhar na “transição energética com outros projetos industriais diferentes da refinação do petróleo” .
A comissão de trabalhadores da empresa já fez saber à RTP que a decisão representará “centenas de despedimentos” e que o encerramento da unidade levará, no futuro, quando o mercado retomar, à necessidade de importação de combustíveis, o que vai “prejudicar o País”.
O encerramento ditado da refinação não impede a continuação, no local, das operações de importação, armazenamento e distribuição, o que, garante a companhia, não afetará a distribuição de combustíveis no País. Mas que implantação industrial existe em Leça da Palmeira? E qual a sua importância para Portugal?
Mais de 50 anos de atividade
A refinaria de Matosinhos, que ocupa uma área de 400 hectares, começou a funcionar em 1969 e está ligada por vários oleodutos, com cerca de dois quilómetros, ao terminal para petroleiros no porto de Leixões, além de ligação por pipeline ao aeroporto Francisco Sá Carneiro. A capacidade de destilação, de 110 mil barris por dia, é metade da de Sines, a outra refinaria do grupo no País, segundo informação institucional da Galp. No final de 2018 trabalhavam diariamente na refinaria cerca de 1.000 trabalhadores, 430 dos quais da Galp.
As instalações de Matosinhos compreendem, além da unidade de destilação, três fábricas – de aromáticos, óleos base e lubrificantes – segundo o relatório integrado da Galp em 2019. A instalação dispõe também de uma unidade de cogeração, fornecendo vapor para uso na refinaria. A empresa tinha projetos em curso em Leça da Palmeira para reduzir até 2024 a sua intensidade carbónica em 15% face aos valores de 2013.
Em conjunto, Sines e Matosinhos, que foram alvo de investimentos de conversão no valor de 1,4 mil milhões de euros ao longo dos últimos anos, têm uma capacidade de processamento de 330 mil barris de crude por dia, um quinto da capacidade de refinação ibérica. Gasolina, fuelóleo e gasóleo foram, no ano passado, os principais produtos (80% do total) saídos das duas instalações.
Desde outubro passado que a produção de combustíveis em Matosinhos estava de novo suspensa “temporariamente” devido a “condições do mercado nacional e internacional, tendo na altura os colaboradores sido informados de que a paragem terminaria em janeiro de 2021.
Nos primeiros nove meses o negócio de refinação e midstream da Galp – que inclui também a logística, o aprovisionamento e trading de produtos petrolíferos, gás e eletricidade, a cogeração e infraestruturas de gás – representou cerca de 38% do total das suas vendas e prestações de serviços (incluindo ajustamentos de consolidação), enquanto os resultados das empresas associadas a esta atividade caíram 23% em termos homólogos.