Os mercados financeiros aparentam apostar forte na possibilidade de estarmos mais perto de uma solução para a crise pandémica. As bolsas reagiram em forte alta ao anúncio da Pfizer de que os resultados preliminares da sua vacina apontam para uma eficácia acima de 90% e de que irá submeter ao regulador dos EUA o uso em caso de de emergência, já na terceira semana de novembro.
O CEO da farmacêutica, Albert Bourla, disse numa entrevista à CNBC que após os dados divulgados esta segunda-feira o mundo pode começar a ver a luz ao fundo do túnel.
O objetivo, explicou o responsável da Pfizer, é que a vacina possa estar em uso limitado no final deste ano, e disponível em larga escala durante o terceiro trimestre de 2021. Depois de várias tentativas de produzir uma vacina em tempo record, um pouco por todo o mundo, esta aparece agora como a mais passível de sucesso. Se tudo correr conforme o previsto, espera-se que sejam produzidas até 50 milhões de doses da vacina Pfizer e BioNTech em 2020 e até 1,3 mil milhões de doses em 2021.
Em Wall Street, os principais índices sobem mais de 3%, renovando máximos históricos. Na Europa, os investidores também mostraram otimismo, com subidas acima de 7%. Estes números indiciam que o mercado está a atribuir uma elevada probabilidade de que o avanço anunciado esta segunda-feira pela Pfizer ajude o mundo a sair da crise pandémica. Isto numa altura em que os dados da Covid-19 na Europa e nos EUA têm piorado a cada dia que passa, levando a que muitos governos tivessem de impor novamente medidas restritivas que afetam a procura e a confiança dos consumidores.
Estas novas versões dos confinamentos deverão levar a uma deterioração dos indicadores económicos no curto prazo. Mas o anúncio da Pfizer levou os investidores a apostarem forte na probabilidade de se regressar ao normal na economia. “É decisivo porque a possibilidade de uma vacina torna possível vislumbrar uma reabertura da economia em 2021 e uma recuperação forte e sustentada”, referiu Emmanuel Cau, responsável de estratégia para os mercados acionistas do Barclays. Citado pela Reuters, o especialista observa que “havia muitos investidores à espera para se posicionarem” neste cenário de recuperação.
Mohamed El-Erian, principal conselheiro económico da Allianz, considerou no Twitter que os resultados da vacina “são uma boa razão para as ações em todo o mundo estarem a subir e, mais importante, para todos sentirmos que há uma luz no final do negro túnel do vírus”.
E as apostas num regresso ao normal são fortes. As ações de companhias aéreas como a IAG (que detém a British Airways e a Iberia) e a Easyjet recuperam mais de 34% apenas na sessão desta segunda-feira. A operadora de cruzeiros Carnival dispara mais de 38% e a cadeia de hotéis Accor tem uma valorização de 25%. Nos EUA, o cenário é semelhante, com as ações de empresas ligadas aos setores de lazer e aviação com fortes subidas. Essas subidas são bem superiores à da Pfizer, que leva uma subida de 7%. A BioNTech ganha mais de 8%.
Mas, apesar dos ganhos expressivos desta primeira sessão da semana, as ações das companhias aéreas e de empresas ligadas ao turismo e lazer ainda têm muito caminho a percorrer para apagarem os prejuízos da crise. Apesar de recuperar mais de 7% esta segunda-feira, o índice europeu do setor acumula uma queda de 24% desde o início do ano.
Já algumas das ações que mais beneficiaram durante a crise, estão agora a corrigir. É o caso dos títulos da Zoom Video Communications que descem mais de 16% neste início de semana. Ainda assim, a plataforma de reuniões online, que tem sido uma das grandes estrelas nos mercados financeiros, ainda leva ganhos de mais de 500% desde o início do ano.
No mercado de matérias-primas, os investidores também estão a apostar na maior probabilidade de haver uma vacina que permita reabrir a economia. O preço do barril de Brent subia quase 9% para 42,90 dólares.