Poupanças máximas nos anos 70 e 80, mínimos nos últimos anos e tendência de reforço em tempos de crise. Este aparenta ser um dos grandes padrões de poupança no País nas últimas décadas. A proporção de rendimento disponível que foi colocada de lado para poupar bateu um mínimo histórico de 6,6% em 2016, tendo uma recuperação bastante moderada nos anos seguintes. Em 2019, esse indicador era de 7%.
Apesar da subida ligeira face a 2016, o esforço de poupança é bastante baixo face aos dados históricos e em comparação com os outros países europeus. “Em Portugal, a poupança dos particulares em % do rendimento que têm disponível é hoje cerca de três vezes menos do que a registada em 1979 e em 1989”, indica a Pordata num documento com destaques estatísticos alusivos ao Dia Mundial da Poupança, que se comemora neste sábado, 31 de outubro.
Os dados mostram que as décadas de 70 e 80 foram aquelas em que a poupança foi mais elevada em percentagem do rendimento disponível dos particulares. Os portugueses chegaram a pôr de lado quase 28% do dinheiro de lado em 1972, o ano em que se registou um máximo nesse indicador.
A tendência de queda acelerada da poupança a partir da década de 90, e especialmente após a entrada no euro, colocou Portugal nas últimas posições na lista dos países europeus neste indicador. Este equivalia a apenas 4,7% do PIB em 2018, data dos dados mais recentes disponibilizados pela Pordata. O valor fica bastante abaixo dos de países como a Alemanha, França, Suécia ou Países Baixos, que apresentam o dobro da poupança. Ainda assim, Portugal consegue estar à frente de outros países como Espanha, Irlanda ou Finlândia.
Os portugueses chegaram a esta crise com vulnerabilidades para lidarem com cenários inesperados para os seus orçamentos familiares. No ano passado, um em cada três não tinha capacidade para fazer face a despesas inesperadas, como a substituição de uma máquina de lavar ou do automóvel, por exemplo, segundo dados do Eurostat. O valor é ligeiramente superior à média europeia, em que 31% dos cidadãos se encontravam nesta situação.
No entanto, a Pordata destaca que “no caso das pessoas com rendimentos abaixo do limiar da pobreza, esta percentagem sobe para 64% em Portugal e, embora em valores bastante inferiores”. Além disso, “também 27% das pessoas acima do limiar da pobreza não conseguem fazer face a despesas inesperadas sem recurso a empréstimo”.
Poupanças em tempos de crise
O número significativo de pessoas que não dispõem de um fundo de emergência para lidar com despesas ou cortes de rendimentos imprevistos é um indicador das dificuldades por que muitas famílias estão a passar nesta crise sem precedente que resultou num corte súbito e inesperado dos rendimentos. Mas, em tempos de crise, os portugueses têm tendência para fazerem esforços extra para conseguirem colocar algum dinheiro de lado.
Durante os anos da última crise financeira e da chegada da troika verificou-se uma subida expressiva da taxa de poupança. Este ano essa tendência voltou a manifestar-se, com a taxa de poupança a disparar para 10,6% no ano terminado no segundo trimestre, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). No final de 2019 esse indicador era de 7%. Para remover os efeitos sazonais (como os impactos do subsídio de férias ou de Natal) e mostrar de forma mais eficaz a evolução da tendência, o indicador que costuma ser destacado pelo INE tem em conta a soma dos últimos quatro trimestres.
Se isolarmos os dados efetivos apenas do segundo trimestre, que incluem o efeito do pagamento de subsídios de férias, a taxa de poupança disparou para 22,6%, o valor mais alto desde, pelo menos, 2000, data do início da série estatística. Na Europa esse indicador foi de 24,7%, segundo o Eurostat. Isto foi motivado por uma maior precaução das famílias face à incerteza sobre a evolução da pandemia e da economia e também por terem sido forçadas a consumir menos devido ao efeito dos confinamentos e das medidas restritivas para abrandar o ritmo da Covid-19.
Os produtos preferidos pelos portugueses para canalizar as poupanças são os depósitos bancários e os certificados de aforro e do tesouro. Estes são alguns dos dados que pode consultar na edição desta semana da revista VISÃO, que traz uma análise e as perspetivas de economistas sobre como os portugueses poupam durante as crises e as melhores formas de gerir o orçamento familiar em tempos de incerteza.