A recessão mundial causada pela pandemia tem sido violenta e será uma das piores da História. Mas, apesar das provações económicas, os mais ricos do mundo têm conseguido ver as suas fortunas crescer. O número de pessoas com património acima de mil milhões de dólares cresceu de 2.058 para 2.189 em poucos meses. E a riqueza acumulada deste grupo de multimilionários recordes em plena crise causada pela Covid-19, com destaque para os empreendedores do setor tecnológico e para empresários da indústria farmacêutica.
“A riqueza total dos multimilionários subiu 27,5%, atingindo 10,2 biliões de dólares, uma subida face aos oito biliões no início de abril”, refere um estudo da consultora PwC e do banco suíço UBS divulgado este mês e que inclui dados até final de julho. Em pouco mais de três meses, as fortunas dos mais ricos do mundo engrossaram 2,2 biliões de dólares. Este valor é superior ao PIB de países como Itália e Brasil, por exemplo, e é cerca de dez vezes superior à riqueza produzida anualmente em Portugal.
A recuperação acentuada do valor do património dos mais ricos do mundo, muito à conta da subida das bolsas mundiais, permitiu que se batessem novos recordes. “Superou-se o pico anterior de 8,9 biliões de dólares atingido no final de 2017”. O património de 10,2 biliões de dólares dos 2.189 multimilionários é equivalente a 11,2% do PIB mundial em 2019 (87,8 mil milhões de dólares, segundo o Banco Mundial).
Entre 2009 e 2020, a riqueza acumulada dos multimilionários triplicou, com destaque para a China. O gigante asiático tem 389 pessoas com património acima de mil milhões de dólares. Controlam, em conjunto, 1,2 biliões de dólares, um valor que cresceu nove vezes em pouco mais de dez anos.
Crescimento da riqueza dos multimilionários entre 2009 e 2020
Tecnologia, farmacêuticas e pandemia
Na liga dos multimilionários as maiores subidas na tabela dos mais ricos têm pertencido a inovadores e empreendedores. Já os empresários com atividades mais tradicionais têm tido uma subida mais moderada no valor dos seus patrimónios. “As fortunas estão a polarizar-se. Em 2018, 2019 e nos primeiros sete meses de 2020, os empreendedores nos setores da tecnologia, saúde e industrial têm estado na frente”, realça o estudo.
Os autores do relatório consideram que “os que são inovadores e trazem disrupção, os arquitetos da destruição criativa na economia, continuam a aumentar a sua riqueza”. E exemplificam: “Entre 2018, 2109 e os primeiros sete meses de 2020, os multimilionários do setor das tecnológicas aumentaram a sua fortuna em 42,5% para 1,8 biliões de dólares devido aos ganhos em bolsa dessas empresas. Na lista dos mais ricos dos mundo compilada pela Bloomberg, as quatro maiores fortunas do planeta encaixam neste perfil. Pertencem a Jeff Bezos (fundador e líder da Amazon), Bill Gates (fundador da Microsoft), Elon Musk (líder da Tesla) e Mark Zuckerberg (criador e presidente do Facebook).
A subida da riqueza dos magnatas da tecnologia é impressionante. Mas os multimilionários da indústria farmacêutica conseguiram um ritmo de crescimento ainda mais alto. O valor das suas fortunas disparou 50,3% para 658,5 mil milhões de dólares, “impulsionado por uma nova era na descoberta de medicamentos e de inovações em diagnósticos e tecnologia médica, assim como, nesta última fase, em equipamento e tratamentos para a Covid-19”.
Neste setor, os grandes protagonistas têm sido empresários chineses. “Os multimilionários da área da saúde estão entre os grandes ganhadores dos últimos dois anos, especialmente os líderes do setor na China, que têm cavalgado o crescimento do mercado de medicamentos e equipamentos no país”. A pandemia também contribuiu para as fortunas dos multimilionários deste setor. “Impulsionou a riqueza de executivos que detêm ações de empresas que estão a desenvolver vacinas e medicamentos para o coronavírus, assim como de empresas de equipamentos médicos como ventiladores”, indica o relatório.
A contrastar com os multimilionários da tecnologia e da saúde, os dos setores do entretenimento, serviços financeiros, matérias primas e imobiliário tiveram subidas bem mais ligeiras, de 10% ou menos, segundo o estudo do UBS e da PwC. Os analistas destas entidades consideram que a crise da Covid-19 intensificou esta mudanças de velocidade entre inovadores e multimilionários com negócios mais tradicionais. E preveem que o fosso continue a acentuar-se nos próximos tempos.